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Escândalo pré-eleitoral



Na reta final para a eleição do Parlamento Europeu, que será renovado nas urnas de quinta-feira a domingo, em cada um dos 28 países-membros, expoentes do establishment político do continente passaram ontem à ofensiva contra as forças da ultradireita populista que aposta no discurso contra a integração para ganhar espaços. A virada política tem como epicentro a Áustria, onde um escândalo de corrupção envolvendo o Partido da Liberdade (FP;) derrubou o governo de coalizão liderado pelo chanceler (primeiro-ministro) Sebastian Kurz, do Partido Popular Austríaco (;VP).

Os ultradireitistas formalizaram ontem a saída do gabinete depois que Kurz demitiu o ministro do Interior, Herbert Kickl, um dos representantes do FP; na equipe. O pivô da crise foi o vice-chanceler e líder máximo da legenda, Heinz-Christian Strache, que aparece em um vídeo de 2017, pouco antes das eleições legislativas que o levaram ao governo, discutindo com uma representante de oligarcas russos a futura concessão de contratos públicos, em troca de financiamento para a campanha.

Em reação inusual às vésperas de uma eleição para o parlamento da União Europeia (UE), o porta-voz da Comissão Europeia (CE, braço executivo do bloco), Margaritis Schinas, declarou-se ;incrédulo; diante do fato de um líder político do continente negociar favores com ;sócios que claramente não levam no coração os interesses europeus;. Embora se esforçando para manter ao menos uma aparência de neutralidade, o atual presidente da CE, Jean-Claude Juncker, cujo sucessor será escolhido pela nova legislatura da Eurocâmara, tem repetido manifestações nas quais alerta os cidadãos do continente para o risco político de dar aos partidos eurocéticos a força necessária para obstruir os trabalhos no parlamento.

Ofensiva
;Nós enfrentamos correntes que querem destruir a Europa dos nossos valores, e devemos resistir categoricamente;, discursou em Zagreb, capital da Croácia, a chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel, criticando os ;políticos que estão à venda;. Merkel e seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), enfrentam na disputa pelas cadeiras alemãs no Legislativo continental a concorrência de uma legenda anti-imigração, a Alternativa para a Alemanha (AfD). De acordo com pesquisas de opinião, os ultradireitistas correligionários devem tomar cadeiras dos correligionários da chanceler e do Partido Social Democrata (SPD), parceiro de Merkel no governo de coalizão.

Com base nas últimas pesquisas de opinião, observadores políticos calculam que a extrema-direita, embora dividida em mais de um bloco, deve compor a terceira maior bancada na próxima legislatura do Parlamento Europeu, que terá um total de 751 deputados. Matthias Jung, analista do instituto alemão Forschungsgruppe Wahlen, avalia, porém, que o escândalo na Áustria ;pode frear o avanço dos populistas; nos últimos dias de campanha.