O governo do Irã notificará nesta quarta-feira, 8, formalmente os signatários do acordo nuclear de 2015 sobre seus planos de abandonar "alguns de seus compromissos voluntários" no pacto em resposta às sanções dos EUA, que há um ano abandonaram o tratado, disse na terça-feira, 7, o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif. A medida deve aumentar a tensão na região após o governo de Donald Trump ter enviado um porta-aviões ao Golfo Pérsico.
Segundo Zarif, o presidente iraniano, Hassan Rohani, não abandonará totalmente o acordo, pelo qual a República Islâmica limitou seu programa nuclear em troca do fim da maioria das sanções internacionais, mas deve reduzir algumas de suas promessas.
Segundo a agência estatal Isna, citando um funcionário de Teerã, o chanceler iraniano incluirá detalhes técnicos do plano em uma carta que será enviada à chefe de política externa da União Europeia, Federica Mogherini, e aos signatários do acordo (Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia). Zarif deve se encontrar hoje em Moscou com seu homólogo russo, Serguei Lavrov. Na carta, segundo a fonte, a República Islâmica provavelmente anunciará que vai aumentar o enriquecimento de urânio.
Os monitores da ONU dizem que o Irã continua cumprindo os termos do acordo nuclear de 2015, que impõe limites no enriquecimento de urânio em troca de reduções de sanções econômicas. O pacto nuclear foi alcançado após anos de difíceis negociações multilaterais lideradas pelos EUA, mas Trump decidiu retirar seu país do acordo e reimpor as sanções que afetaram a economia iraniana - levando à queda do valor de sua moeda, aumentando a inflação e desencorajando os investimentos no país.
Os EUA intensificaram sua pressão econômica no começo do mês ao cortar as isenções de oito países importadores do petróleo iraniano para forçar o país a encerrar seu apoio a grupos como os houthis, do Iêmen, e o Hezbollah, do Líbano, considerados organizações terroristas pelos EUA.
No domingo, os EUA anunciaram que estavam enviando um porta-aviões com a mensagem ao Irã de que qualquer agressão será recebida com uma "força implacável". Em sua campanha eleitoral, Trump prometeu rasgar o acordo selado por Barack Obama. Trump criticou o acordo por falhar em não abordar o programa de mísseis balísticos de Teerã, que descreve como principal influência no Oriente Médio.
O Irã está assumindo um risco significativo, pois vários membros do governo Trump que adotaram uma posição dura com relação a Teerã têm "esperado por este momento", disse Sanam Vakil, pesquisadora sênior do Programa Oriente Médio e Norte da África da Chatham House. Os líderes iranianos estão calculando que os EUA não querem se envolver em uma nova guerra, mas eles podem minar suas relações com seus parceiros europeus", acrescentou.
Os signatários europeus continuaram a apoiar o acordo, prometendo encontrar meios de amenizar o impacto das sanções dos EUA e garantir benefícios ao Irã por cumprir o pacto. Mas os esforços para reduzir os efeitos das sanções se mostraram inconclusivos.
Há meses os funcionários iranianos vêm indicando que estão perdendo a paciência com o acordo que forneceu muito pouco dos prometidos benefícios econômicos. A Isna disse que as medidas adotadas por Teerã são justificáveis, pois o pacto permite que o Irã retroceda se os EUA impuserem novas sanções ou os signatários europeus fracassarem em cumprir suas promessas.
Representantes da União Europeia, de França, Alemanha e Reino Unido se reunirão em Bruxelas na quinta-feira para discutir a aplicação de um mecanismo destinado a facilitar o comércio com o Irã. Uma fonte da presidência francesa disse que os países europeus não sabem exatamente quais passos o Irã pretende dar, mas advertiu que eles podem retomar suas sanções se Teerã reviver seu programa nuclear. "Não queremos que Teerã anuncie medidas que violem o acordo nuclear, pois, nesse caso, os europeus serão obrigados a reimpor as sanções segundo os temos do pacto", disse a fonte.
O jornal iraniano Javan, associado à Guarda Revolucionária, disse que ia "acender o palito de fósforo para incendiar o acordo". O jornal também sugeriu na edição de ontem que o Irã deve instalar centrífugas avançadas em sua base em Natanz e começar o enriquecimento em Fordo, atividades proibidas pelo acordo. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.