Ao dizer isso, Bolsonaro reproduz uma preocupação da cúpula militar com a possibilidade de retorno da esquerda ao comando do país vizinho, que ajudaria a ampliar focos de tensão no continente e seria um reforço à Nicolás Maduro e à situação trágica da Venezuela. Este tema tem sido alvo de avaliação do governo, em várias reuniões realizadas por Bolsonaro nos últimos dias.
Cristina, mesmo com julgamento marcado e investigada em pelo menos seis casos de corrupção, lidera pesquisas para a eleição presidencial de 27 de outubro. Cristina estaria com 9 pontos de vantagem num eventual segundo turno contra Mauricio Macri, atual presidente da Argentina, que concorre à reeleição enquanto enfrenta uma forte crise econômica.
De acordo com um dos ministros que têm participado das discussões no centro do governo, caso Cristina vença as eleições, um foco de instabilidade voltaria à região. "O problema maior é a junção das situações da Venezuela e Argentina. A possibilidade de a Cristina Kirchner, que está bem nas pesquisas, voltar a comandar o país, traz uma preocupação muito grande", observou este ministro.
A mesma fonte disse que "se houver país socialista no extremo sul e um país comunista, voltado ao narcotráfico, no extremo norte da América do Sul, vai ser um negócio muito complicado. Para o Brasil, é péssimo".
Se a dupla entre Kirchner e Maduro for resgatada, há um temor de que a onda conservadora que tomou conta da América Latina nos últimos anos, com abatimento da esquerda, sofra um revés. Os militares lembram que ainda tem como vizinhos Evo Morales, que está contido pelo isolamento, mas se fortaleceria com essa volta da ex-presidente esquerdista.