O líder norte-coreano Kim Jong Un se esforçou nesta quinta-feira (25) para reavivar os "vínculos históricos" entre Rússia e Coreia do Norte, em sua primeira reunião de cúpula com o presidente russo Vladimir Putin, enquanto a questão nuclear permanece estagnada com Washington.
Dois meses depois do grande fracasso do segundo encontro com o presidente americano, Donald Trump, em Hanói, o norte-coreano afirmou que teve um "momento muito bom" com o presidente russo após duas horas de reunião em Vladivostok.
"Acabamos de ter uma troca de opiniões muito substancial", afirmou Kim ao abrir uma reunião ampliada às delegações.
Putin citou uma "discussão bastante detalhada".
Apesar dos repetidos convites a Kim, a Rússia permaneceu até agora afastada da espetacular distensão observada na península da Coreia desde o início de 2018.
Foi a ex-União Soviética que colocou no poder o avô de Kim e fundador da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Il Sung.
"Relação mais estável"
Vladimir Putin recebeu com um longo aperto de mãos Kim Jong Un na ilha de Russki, diante do porto de Vladivostok, no extremo oriente russo, onde o dirigente norte-coreano chegou na quarta-feira após uma viagem de 10 horas em seu trem blindado.
"Estou certo de que sua visita hoje à Rússia nos ajudará a compreender melhor de que maneira podemos resolver a situação na península coreana e o que a Rússia pode fazer para apoiar as tendências positivas que ocorrem atualmente", declarou Putin no início do encontro.
Kim manifestou a crença de que o encontro "será muito útil para desenvolver os históricos laços entre nossos países, que têm uma longa amizade, e tornar nossa relação mais estável e sólida".
Nenhum comunicado estava previsto, nem a assinatura de acordos durante o encontro, o primeiro a este nível entre os dois países desde o encontro em 2011 entre Kim Jong Il e o ex-presidente e atual primeiro-ministro Dmitri Medvedev.
O pai do atual líder norte-coreano, falecido em dezembro de 2011, afirmou naquela oportunidade que estava disposto a renunciar aos testes nucleares. Mas Kim Jong Un presidiu quatro testes nucleares e o lançamento de mísseis intercontinentais com capacidade de atingir o território continental americano.
Após anos de aumento da tensão, em consequência dos programas nuclear e balístico de Pyongyang, Kim se reuniu em quatro ocasiões desde março de 2018 com o presidente chinês, Xi Jinping, três com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e duas com Trump.
Em Hanói, a Coreia do Norte tentou conseguir uma redução das sanções internacionais aplicadas para obrigar o país a renunciar a suas armas atômicas. Mas as discussões terminaram antes do previsto em consequência das profundas divergências com Washington, sobretudo pelas concessões que Pyongyang estava disposta a fazer.
"Agitado" e "difícil"
O regime norte-coreano fez na semana passada críticas pesadas a Mike Pompeo, o secretário de Estado americano, e pediu que não participe mais nas negociações sobre a questão nuclear.
Pompeo, em uma entrevista na quarta-feira ao canal CBS, se expressou prudência sobre a continuidade do diálogo: "Vai ser agitado. Vai ser difícil".
Moscou defende um diálogo com Pyongyang baseado em um plano definido por China e Rússia. O país já solicitou a retirada das sanções internacionais, enquanto o governo dos Estados Unidos acusou o Kremlin de ajudar a Coreia do Norte a evitar as punições.
Além da questão nuclear, Kim e Putin conversaram sobre o aumento da cooperação econômica e, mais concretamente, sobre a questão da mão de obra norte-coreana.
Quase 10.000 trabalhadores do país asiático estão empregados na Rússia, o que representa uma importante fonte de divisas para Pyongyang.
Mas a resolução 2397 do Conselho de Segurança da ONU, de dezembro de 2017, solicitava a todos os países com trabalhadores norte-coreanos que os enviassem de volta ao país no prazo de dois anos.
A relação entre Pyongyang e Moscou teve início no período soviético.
A URSS forneceu apoio crucial a Kim Il Sung durante a Guerra Fria, mas as relações avançaram de maneira irregular, em particular porque o fundador da RDPC era um mestre na arte de jogar com a rivalidade entre chineses e soviéticos para obter concessões dos dois lados.
Pouco depois de sua primeira eleição como presidente da Rússia, Vladimir Putin tentou normalizar as relações e se reuniu em três ocasiões com Kim Jong Il, pai e antecessor do atual líder. O primeiro encontro aconteceu em Pyongyang em 2000, o que fez de Putin o primeiro governante russo a viajar à Coreia do Norte.