Professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana) e especialista em narcotráfico, Vicente Sánchez Munguía descarta que o México tenha atingido um estágio de pacificação. ;Não creio que a guerra terminou. Talvez o presidente queira se distanciar dos governos anteriores em sua estratégia contra o crime organizado. AMLO chegou a fazer um giro pelo que se chama de ;Triângulo Dourado;, a confluência dos estados de Sinaloa, Durango e Chihuahua. Essas regiões foram domínios do narcotráfico e, em especial, do Cartel de Sinaloa;, explicou.
Durante a viagem, López Obrador teve contato com a família de ;El Chapo; Guzmán, o que foi interpretado pela mídia como o início de um pacto para pacificar o México. ;No entanto, houve operações conjuntas do governo federal e de Guanajuato contra uma organização que tomou controle do narcotráfico e que roubou combustível do Estado. Forças federais também foram enviadas a outras regiões do país diagnosticadas como muito violentas;, afirmou Munguía. O analista acredita que a retórica e a prática, sob o governo de AMLO, se distanciaram. ;O presidente fala uma coisa, mas as ações são muito parecidas com aquelas empreendidas por governos anteriores.;
Na semana passada, as autoridades federais publicaram cifras sobre a violência no país. Para Munguía, a redução em 29,6% nos assassinatos se relaciona com a mobilização de 6 mil efetivos militares em 21 zonas consideradas as mais violentas do México. ;Até o momento, o uso do Exército contra o roubo de combustíveis em dutos e o envio de soldados para essas 21 zonas são as ações mais concretas empreendidas pelo governo. Por sua vez, há a confirmação do novo corpo armado, chamado Guarda Nacional, como o principal ator do Estado contra o crime e a violência. Mas levará tempo considerável para que a Guarda Nacional possa operar plenamente;, comentou. O uso da Guarda Nacional foi aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados em 1; de março. Será integrada por membros das polícias militar, naval e federal e, até o fim do ano, deve receber mais de 20 mil recrutas civis.
Estratégia
Raúl Benítez Manaut, professor da Universidad Nacional de México e especialista em segurança nacional e forças armadas, pensa da mesma forma que Munguía. Segundo ele, o presidente López Obrador assinou que a guerra ao narcotráfico terminou como um assunto de mudança de estratégia. No entanto, ele garante que o combate aos cartéis prossegue. ;Foi uma declaração para diferenciar sua política da ;guerra; encampada por Felipe Calderón (2006-2012) e por Enrique Peña Nieto (2012-2018). AMLO disse que o narcotráfico precisa ser combatido desde a raiz (a pobreza e a corrupção) e com a ação da Guarda Nacional, a nova polícia do México;, disse.
Com a decadência do Cartel de Sinaloa, após a prisão de ;El Chapo;, uma nova organização criminosa ganhou espaço no México e ascendeu como potencial ameaça ao Estado: o Cartel Jalisco Nueva Generacion (CJNG), muito mais cruel e violento. Fundado em 2009, tornou-se o mais poderoso. Ele é seguido pelo Cartel do Golfo, com domínio sobre o estado de Tamaulipas. Há ainda os cartéis Guerrero Unidos e Los rojos. ;Ainda existem heranças do Cartel de Sinaloa. O de Los Zetas mantém sua influência, ainda que tenham sido fortemente golpeados;, acrescentou Manaut.
Por sua vez, Munguía explica que algumas facções operam em espaços mais localizados em nome de cartéis maiores. ;A presença dessas organizações tem um fio condutor até as autoridades públicas, sobretudo as polícias e promotorias; em menor medida, os juízes;, disse. As relações promíscuas entre o Estado e o narcotráfico alimentam a violência, na contramão da estratégia do governo federal de retirar poder do crime organizado.