O papa Francisco inicia, neste sábado (30/3), uma breve visita ao Marrocos, país de maioria muçulmana, para falar do diálogo com o Islã, assim como de migração, dois temas-chave de seu pontificado.
O avião papal decolou às 10h45 (06h40 de Brasília) de Roma e deve aterrissar às 14h00 (10h00 de Brasília) em Rabat, a capital do Marrocos. O líder da Igreja Católica deve participar de um evento da Caritas Internacional, confederação de organizações humanitárias.
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O líder espiritual de 1,3 bilhão de católicos foi convidado pelo rei marroquino, Mohamed VI, "comandante dos crentes", para esta visita centrada no "desenvolvimento do diálogo interreligioso", segundo as autoridades marroquinas.
"Cristãos e muçulmanos, irmãos no mundo que precisam de paz", disse o pontífice em uma mensagem por vídeo divulgada na véspera de sua 28; viagem internacional.
O sumo pontífice quer manter laços de amizade com o mundo muçulmano e, ao mesmo tempo, está empenhado em visitar as menores comunidades católicas do mundo, que costumam ser esquecidas pela cúpula da Igreja.
Cerca de 30.000 católicos vivem no Marrocos. A maioria é composta de estrangeiros procedentes da África subsaariana, estudantes, ou migrantes a caminho da Europa.
Para receber o pontífice em Rabat, edifícios foram pintados, as ruas foram pavimentadas e os jardins arrumados.
O rei Mohamed VI vai recebê-lo aos pés do avião com tâmaras e leite de amêndoa, como marcas de tradição. Depois, os dois farão uma procissão para uma grande esplanada em Rabat, que deve reunir cerca de 25 mil pessoas para ouvir os discursos de ambos os líderes, que serão transmitidos em telas gigantes.
No domingo, muitos deles assistirão a uma missa em um complexo esportivo, algo que não se via desde a visita de João Paulo II em 1985, já que 99% da população é muçulmana sunita.
Como aconteceu durante sua viagem em janeiro aos Emirados Árabes Unidos, o papa se reunirá com os principais líderes religiosos muçulmanos, e visitará o mausoléu de Mohamed V - gestos a favor da tolerância religiosa.
Nesse mesmo dia, ele se reúne com migrantes na sede da Caritas de Rabat, onde pronunciará um importante discurso.
Com essa viagem, segundo o Vaticano, o papa deseja dar esperança às minorias cristãs e aos muçulmanos convertidos, que pedem para desfrutar plenamente da liberdade de religião consagrada na Constituição marroquina.
Liberdade de culto incompleta
"Sonhamos com um Marrocos livre que assuma sua diversidade religiosa", pediu, em uma nota, a Coordenadoria dos Cristãos Marroquinos.
A organização espera que a visita seja "uma oportunidade histórica" para que o Marrocos se comprometa a fundo com a questão.
Segundo a Constituição marroquina, "o Islã é a religião do Estado, o qual garante a todos o livre exercício dos cultos".
Diferentemente dos Emirados Árabes, o código penal marroquino não prevê pena de morte para os apóstatas do Islã e a regra em geral "é a discrição", explicou um religioso de Rabat.O tema é delicado.
O ministro para os Direitos Humanos, o islamista Mustapha Ramid, garantiu recentemente que a liberdade de consciência representa "uma ameaça" para a "coesão" do Marrocos, o que abriu o debate.
A conversão voluntária não é um crime, mas fazer proselitismo ("abalar a fé de um muçulmano e querer convertê-lo a outra religião") pode custar até três anos de prisão.
"O que se condena é o proselitismo agressivo", explicou o embaixador do Marrocos em Paris, Chakib Benmoussa.
Para ele, "a visita do papa Francisco representa algo muito importante, porque se quer lutar contra o fanatismo (...) a intolerância, mas também (...) representa um momento para o diálogo positivo entre as religiões, os povos e as civilizações".