O número de mortos na passagem do ciclone Idai na semana passada por Moçambique e Zimbábue superou neste sábado a barreira de 600, ao mesmo tempo que a ONU pede mais ajuda para os sobreviventes.
O ciclone Idai, que devastou os dois países, deixou 676 mortos afetou centenas de milhares de pessoas, que perderam suas casas ou plantações.
O fenômeno atingiu a costa do centro de Moçambique na manhã de 15 de março, o que provocou fortes ventos e chuvas que inundaram o interior do país e o leste de Zimbábue, deixando um rastro de destruição.
A ONU pediu mais ajuda para Moçambique, enquanto as agências de assistência humanitária lutam para ajudar dezenas de milhares de pessoas.
"Desastre sem precedentes"
O ministro de Meio Ambiente moçambicano, Celso Correia, afirmou neste sábado que a região afetada pelo desastre alcança uma superfície de 3.000 quilômetros quadrados e anunciou um balanço atualizado.
"Até o momento tempos 417 mortos e 1.528 feridos", afirmou Celso Correia em Beira, a segunda maior cidade do país, parcialmente devastada na passagem do ciclone Idai.
O balanço anterior em Moçambique citava 293 mortos
É um desastre natural sem precedentes. A zona afetada (em Moçambique) é de 3.000 quilômetros quadrados", completou o ministro.
Após a limpeza das grandes avenidas e do resgate de pessoas ainda retidas em áreas inundadas, a próxima etapa é levar água potável à região para evitar doenças, afirmou na sexta-feira a diretora do Unicef Henrietta Fore, que viajou a Moçambique para avaliar os danos.
"O tempo é curto, estamos em um momento crítico", alertou na cidade de Beira.
Fore expressou preocupação com a "água parada e os mosquitos". Também citou os "corpos em decomposição, a falta de higiene e de instalações sanitárias".
"Em Beira já foram registrados casos de cólera e as infecções de malária aumentam", alertou a Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha.
"As doenças respiratórias também ameaçam virar um problema de saúde. Continua chovendo dentro das casas e para os desabrigados, que estão em escolas ou igrejas, o confinamento favorece a transmissão de doenças", advertiu a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
As agências da ONU e as ONGs se esforçam para socorrer as pessoas desabrigadas e com fome, mas a distribuição de ajuda é caótica.
"A magnitude da situação vai muito além do que um país ou um governo podem fazer", declarou Gerry Bourke, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PAM).
Ajuda a longo prazo
"Dezenas de milhares de famílias perderam tudo. Há crianças que perderam os pais e comunidades que perderam escolas e clínicas", comentou o secretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Elhadj As Sy, que sobrevoou as zonas inundadas.
"Devemos reagir rapidamente em grande escala e nos prepararmos para auxiliar a população afetada por um longo prazo", destacou.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu na sexta-feira à comunidade internacional que multiplique as doações.
A ONU já liberou 20 milhões de dólares em um primeiro pacote de ajuda de emergência.
"Mas é necessária uma ajuda internacional muito maior", disse Guterres.
Uma conferência de doadores está programada para 11 de abril em Beira.
Escolas hotéis e igrejas foram transformadas em centros de abrigo, tanto em Moçambique como no Zimbábue.
Em Beira, cidade de 500.000 habitantes, o principal hospital, que teve o teto parcialmente afetado, funciona com apenas 40% de sua capacidade.
Nas ruas, a população tenta retornar à normalidade. Na sexta-feira, filas foram observadas diante das agências bancárias, que reabriram as portas.
As operações de reconstrução começam de modo lento. Alguns moradores procuravam, entre os escombros de um supermercado, pedaços de metal para construir casas precárias.
E os técnicos trabalham para restabelecer as linhas de telefone e de energia elétrica.