"Não vim aqui para falar do Pinochet", foi uma das primeiras frases do presidente Jair Bolsonaro ao desembarcar em Santiago, na quinta-feira, 21, para três dias de visita oficial ao Chile. A declaração não foi suficiente. A oposição ao presidente chileno Sebastián Piñera tem usado a visita do brasileiro ao Chile como munição contra o governo.
O principal ponto explorado pela oposição é a defesa que integrantes do governo Bolsonaro fazem do ditador Augusto Pinochet, cujo regime é acusado de ter deixado 40 mil vítimas, entre mortos, desaparecidos e torturados, entre 1973 e 1990.
"É especialmente desconfortável para um presidente de direita democrático ter alguém mencionando Pinochet com uma conotação positiva. Para a direita chilena, tem sido difícil se afastar do fantasma de Pinochet. Ninguém à direita está feliz porque Bolsonaro está nomeando Pinochet. Isso atinge o governo. Isso faz com que ele se sinta desconfortável", disse o cientista político chileno Patricio Navia, professor da Universidade de Nova York.
O presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, e o do Senado, Jaime Quintana, ambos oposicionistas, recusaram o convite de Piñera para participar de um almoço em homenagem a Bolsonaro neste sábado, 23, no palácio La Moneda, sede do governo chileno.
Quintana reagiu fortemente a uma declaração, feita na véspera pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. "No período de Pinochet, o Chile teve de dar um banho de sangue. Triste, o sangue lavou as ruas do Chile, mas as bases macroeconômicas fixadas naquele governo... Já passaram oito governos de esquerda e nenhum mexeu nas bases macroeconômicas colocadas no Chile no governo Pinochet", disse à Rádio Gaúcha.
Quintana classificou na sexta-feira, 22, a frase de Onyx como "um desatino que não tem comparação" e disse não se recordar de declarações desse nível por parte de um governo cujo mandatário pisou em solo chileno. "Creio que isso é um agravo não só à oposição, não só às vítimas, mas a todo o país", afirmou o senador.
Na sexta, o advogado Raúl Meza, defensor de repressores presos por crimes cometidos durante a ditadura, entregou uma carta na Embaixada do Brasil em Santiago pedindo que Bolsonaro aproveitasse a viagem para fazer uma visita ao presídio de Punta Peuco para, "na condição de militar", ver de perto a situação em que se encontram os militares condenados por violações aos direitos humanos durante a ditadura chilena. A comitiva de Bolsonaro se recusou a comentar o assunto, sob a alegação de que se trata de um tema de interesse interno do governo chileno.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.