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Ataques contra mesquitas deixam 49 mortos na Nova Zelândia

Testemunhas descreveram cenas caóticas e corpos ensanguentados. Crianças e mulheres estão entre as vítimas

Um homem, identificado pela polícia como um extremista de direita, atacou, na manhã desta sexta-feira (15/3), duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia. Ao todo, 49 pessoas foram brutalmente assassinadas, à queima-roupa, enquanto faziam suas orações dentro dos templos mulçumanos. Outras 50 pessoas ficaram feridas, 20 em estado grave. Há crianças entre as vítimas.
O ataque aconteceu na manhã de sexta-feira ; horário local ; noite de quinta-feira (14/3) no Brasil. Toda ação foi filmada e transmitida ao vivo nas redes sociais do terrorista, que usou uma câmera GoPro, acomplada a cabeça. Incontáveis disparos foram feitos, já na entrada do primeiro templo. O Correio teve acesso as imagens, mas não publicará, conforme orientado pela polícia neozelandesa em coletivas de imprensa dadas horas após o massacre. As cenas são fortes.
A primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, falou que o dia é um dos "mais sombrios" da história da Nova Zelândia. Ela descreveu o ataque como "terrorista" e destacou que trata-se do pior ataque contra muçulmanos em um país ocidental.

O suposto autor, um australiano de 28 anos, foi identificado, preso e acusado de homicídio. Outros dois homens e uma mulher também foram identificados e são suspeitos de envolvimento do ataque. Eles serão ouvidos. Segundo o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, o acusado é "um terrorista extremista de direita, violento", disse.

Cenas de guerra


Testemunhas disseram que diversos corpos ensanguentados foram vistos, dentro e fora dos templos. Diversas autoridades políticas de todo o mundo se manifestaram, inclusive o papa Francisco e o presidente norte-americano, Donald Trump.

O terrorista transmitiu as imagens dos ataques ao vivo, nas redes sociais. Nas filmagens, era possível ver ver ele atirando contra cada vítima. As pessoas que tentavam fugir também eram baleadas. Impiedoso, ele atirou, também, contra corpos que já estavam no chão.
O atirador de Christchurch deve ser levadoa o tribunal já neste sábado (16/3).

Redes sociais

Antes de agir, o homem publicou no Twitter um manifesto racista, de 74 páginas, intitulado "A Grande Substituição". O texto fazia referência a uma teoria originada na França, e que ganha terreno entre os círculos ultraliberais. De acordo com a publicação, "os povos europeus estão sendo substituídos" por populações de imigrantes não europeus.

O documento detalha dois anos de radicalização e preparativos. Afirma, ainda, que a radicalização doa tirador aconteceu diante o fracasso da líder de ultra-direita Marine Le Pen nas eleições francesas de 2017, e a morte da menina sueca Ebba ;kerlund, de 11 anos, vítima de um atentado a bomba, em abril de 2017, em Estocolmo.
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As contas no Twitter e no Facebook onde o vídeo do massacre e o manifesto foram postados foram desativadas. A polícia fez um apelo para que as pessoas não compartilhassem nas redes sociais "imagens extremamente insuportáveis". E alertou que quem compartilhar o vídeo pode pegar penas de até dez anos de prisão. "Está claro que isto só pode ser descrito como um ataque terrorista. Pelo que sabemos parece que estava bem planejado", disse Ardern, a primeira-ministra neozelandesa. "Foram encontrados dois artefatos explosivos em veículos suspeitos e ambos foram desativados", completou.

Templos

As duas mesquitas atacadas são as de Masjid al Noor, no centro de Christchurch, onde morreram 41 pessoas, e Linwood, na periferia, onde sete fiéis foram abatidos. Outra vítima acabou morrendo devido aos ferimentos no hospital. Os dois templos estavam lotados nesta sexta-feira, para a sessão vespertina das orações.

Um imigrante palestino, que pediu para não ser identificado, afirmou que viu o momento em que um homem foi atingido por um tiro na cabeça. "Escutei três disparos rápidos e depois de uns 10 segundos tudo começou de novo. Deve ter sido uma arma automática, porque ninguém consegue apertar o gatilho tão rapidamente", disse o homem à AFP.

"As pessoas começaram a correr, algumas estavam cobertas de sangue". Outro homem contou à imprensa local que viu o momento em que uma criança foi atingida pelos tiros. "Havia corpos por todos os lados", declarou. Em uma das mesquitas estava a equipe de críquete de Bangladesh, mas os jogadores conseguiram fugir. "Estão sãos e salvos, mas em estado de choque. Pedimos ao time que permaneça confinado no hotel", afirmou uma fonte da delegação. A partida entre as seleções de Bangladesh e Nova Zelândia foi cancelada.

As armas semiautomáticas possuíam inscrições de nomes de personagens da história militar, entre eles inúmeros europeus que lutaram contra os otomanos os séculos XV e XVI. As forças de segurança bloquearam o centro da cidade, mas poucas horas depois suspenderam a medida. A polícia pediu aos fiéis que evitem as mesquitas em toda Nova Zelândia.

Todas as escolas da cidade foram fechadas. Ocorria, no momento do ataque, um protesto de estudantes contra as mudanças climáticas. O grupo estava relativamente próximo ao local de ação do atirador. Por isso, o município abriu uma linha direta para os pais dos estudantes buscarem informações sobre os alunos.
A Nova Zelândia tem cerca de cinco milhões de habitantes e apenas 1% da população se diz muçulmana. Neste país, que se orgulha de ser um lugar pacífico e acolhedor, há cerca de 50 assassinatos por ano. Os tiroteios são raros no país, que, em 1992 restringiu a legislação que permite acesso às armas semiautomáticas, justamente após um massacre de 13 pessoas na cidade de Aramoana, na Ilha Sul.
Com informações da Agência France Press