Quando foi eleito primeiro-ministro do Canadá, em 2015, Justin Trudeau era um dos políticos mais festejados do mundo. Cara de galã, discurso moderno - em francês e inglês irretocáveis - e um pedigree político tradicional: ele é o filho mais velho do ex-premiê Pierre Trudeau e da ativista Margaret Sinclair. Quatro anos depois, um escândalo de corrupção ameaça encerrar prematuramente sua carreira.
Na origem da crise está a empreiteira canadense SNC-Lavalin, com 50 mil empregados, entre eles 9 mil no país, acusada de um suborno na Líbia. A ex-procuradora-geral e ministra de Justiça do Canadá, Jody Wilson-Raybould, afirma que foi pressionada pelo premiê para obter um acordo, em vez de prosseguir com as acusações formais.
Como resistiu, Jody foi rebaixada e pediu demissão. Em seguida, deixaram o governo Gerald Butts, assessor mais próximo de Trudeau, a presidente do Conselho do Tesouro, Jane Philpott, que é muito ligada à ex-procuradora, e a deputada Celina Caesar-Chavannes, que anunciou que não se candidatará novamente.
"Infelizmente, as provas de esforços de políticos e funcionários do governo para pressionar a ex-ministra da Justiça a intervir em um caso envolvendo a SNC-Lavalin levantaram sérias preocupações em mim", justificou Philpott.
A ex-procuradora prestou depoimento ao Congresso na semana passada. Suas declarações atingiram em cheio o governo. A perda de empregos e votos explicaria a preocupação de Trudeau com a condenação da construtora na Justiça e, por isso, teria tentado influenciar o processo - se for condenada, a SNC-Lavalin não poderá obter contratos com o governo pelos próximos dez anos.
O premiê nega as acusações de interferir no Judiciário, mas até agora não foi convincente. Pesquisas apontam que mais de 40% dos canadenses acreditam que ele agiu mal na condução do escândalo. A oposição, liderada pelo Partido Conservador, passou a cobrar a renúncia de Trudeau, embora o país já tenha eleições legislativas marcadas para 21 de outubro.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos, divulgada esta semana, mostrou o Partido Liberal, de Trudeau, com apenas 31% das intenções de voto, enquanto os conservadores têm com 40%, a maior vantagem no atual ciclo eleitoral.
Ontem, em entrevista coletiva, o premiê disse que todas suas atitudes tiveram como objetivo "proteger postos de trabalho" e garantiu que sua equipe "seguiu a lei". "Em última análise, acredito que nosso governo sairá mais forte por ter lutado contra essas questões", disse. "Quando 9 mil empregos estão em jogo, esse é um problema de política pública da mais alta ordem."
Trudeau tornou-se um dos principais ícones da centro-esquerda mundial com um governo progressista e marcado pela igualdade de gênero e pela abertura do Canadá a imigrantes e refugiados. No auge de sua popularidade, o primeiro-ministro bateu de frente com as políticas defendidas por seu vizinho Donald Trump, alimentando uma estranha diplomacia com os EUA. Agora, a imagem de político progressista, alinhado a causas sociais, parece irremediavelmente arranhada pelo escândalo. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.