Um dia após voltar à Venezuela, o líder opositor Juan Guaidó iniciou na terça-feira (5/3) uma nova fase nos esforços para retirar o presidente Nicolás Maduro do poder ao se reunir com sindicatos do setor público e definir uma agenda de greves na administração pública. "Faremos uma greve escalonada, proposta dos trabalhadores para nunca mais trabalharem pela ditadura", disse Guaidó, autoproclamado presidente interino do país em janeiro.
Segundo o opositor, além das greves, está sendo preparada uma lei para proteger os funcionários públicos que sejam demitidos. Os sindicatos não anunciaram quando e em que setores vão ocorrer as paralisações. "Nas prefeituras, por exemplo, vamos trabalhar apenas três vezes por semana", explicou Ana Yánez, do sindicato Unete (União Nacional de Trabalhadores da Venezuela).
A partir de quarta-feira, 6, o Parlamento - único órgão controlado pela oposição - realizará reuniões com as grandes centrais trabalhistas, que agrupam mais de 600 sindicatos, para coordenar as ações que resultarão em greves por etapas na administração pública.
"Pedimos que toda a Assembleia Nacional (Parlamento) trabalhe junto com a gente para tirar do poder os que roubam a vontade popular, nossos votos do Poder Eleitoral. Aposentados dessa instituição precisam emigrar porque morrem de fome", disse Enrique Cedeño, secretário-geral do sindicato do Conselho Nacional Eleitoral, segundo o portal Efecto Cocuyo.
Segundo Juan Andrés Mejía, deputado opositor, a estratégia de Guaidó é isolar o regime chavista. "Isso envolve levar uma mensagem não apenas aos militares, mas a outras partes da base de Maduro", explicou Mejía. Os sindicatos dos setores públicos "têm sido parte da estratégia do regime para permanecer no poder", com seus funcionários comparecendo a manifestações pró-Maduro, acrescentou.
"É preciso a mudança política para reativar o setor elétrico que hoje está 70% paralisado. Denuncio que 296 dirigentes sindicais têm seus benefícios suspensos hoje por levantar sua voz", afirmou após a reunião Reinaldo Díaz, representante da estatal elétrica Copoelec.
Para o analista da Universidade Central da Venezuela Félix Seijas, a oposição "precisa transmitir ao povo que está avançando, com passos firmes. Se não fizer isso, o povo acabará ficando desencorajado".
Medo
Guaidó reuniu-se com representantes de cerca de 600 sindicatos e esperava uma presença em massa de trabalhadores, mas muitos não compareceram alegando medo de uma retaliação do governo chavista, segundo reportagem do Washington Post. Esse é um sinal do desafio do líder opositor ao desafiar o governo que tem resistido à pressão internacional.
Na reunião de ontem também estavam presentes representantes da chancelaria, de companhias telefônicas e petrolíferas, todos sob comando chavista.
O governo é considerado o maior empregador do país, com aproximadamente 2 milhões de empregados. Enquanto Guaidó se reunia com líderes sindicais, poucas centenas de trabalhadores foram ao local da reunião mostrar seu apoio ao presidente interino.
Um deles, do cartório federal, afirmou que a maioria dos 4 mil trabalhadores do setor apoia Guaidó. "Não há muitos de nós aqui", reconheceu, falando sob condição de anonimato. "Temos medo de demissões por demonstrar lealdade à oposição." Lenin Briceno, de 54 anos, funcionário de banco aposentado, afirmou que ao menos 80% de seus antigos colegas apoiam o opositor.
"Nossa pressão está apenas começando, a jogada social agora é sair às ruas", disse Guaidó na terça.
A reunião com os sindicatos ocorreu um dia depois do retorno de Guaidó ao país. A possível prisão do opositor não ocorreu e as autoridades chavistas - que ainda controlam a elite militar - permitiram sua entrada.
Na terça, Maduro se pronunciou e disse que "derrotará uma minoria louca que quer desestabilizar o país". O presidente convocou ainda manifestações "anti-imperialistas" para o sábado, mesma data dos novos protestos convocados por Guaidó. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.