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França pede ao Vaticano que assuma a responsabilidade sobre núncio acusado

Duas denúncias foram apresentadas na França contra o religioso italiano de 74 anos por contato sexual

A França pediu nesta sexta-feira (1/3) ao Vaticano que assuma suas responsabilidades após as acusações de agressão sexual contra seu representante no país, sugerindo que sua imunidade diplomática deveria ser retirada.

"Espero que a Santa Sé assuma suas responsabilidades", declarou a ministra francesa de Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, em resposta a uma pergunta do canal CNEWS sobre uma possível suspensão da imunidade diplomática do núncio apostólico, Luigi Ventura, embaixador do Vaticano na França.

Duas denúncias foram apresentadas na França contra o religioso italiano de 74 anos por contato sexual. A primeira foi apresentada no mês passado por um funcionário da prefeitura de Paris, com idade por volta de 30 anos, que afirmou ter sido assediado durante uma cerimônia em 17 de janeiro.

Poucos dias depois, um ex-funcionário da prefeitura de Paris apresentou uma denúncia afirmando que foi vítima de uma agressão similar durante a mesma cerimônia, mas um ano antes, em 2018.

Os mesmos atos significam apalpar as nádegas do funcionário público. "Se os fatos se confirmarem, seriam fatos particularmente graves porque quando você é uma autoridade religiosa supõe-se que você é uma autoridade moral, portanto é um fator agravante", disse Loiseau.

"No momento, (o núncio) tem imunidade diplomática, mas a Santa Sé está evidentemente a par das acusações graves contra o núncio apostólico e não tenho nenhuma dúvida de qua a Santa Sé tomará a boa decisão", completou a ministra, insinuando desta maneira que a França solicita ao Vaticano a retirada da imunidade. "O importante é conhecer a verdade", completou a ministra francesa.

Na edição de quinta-feira do jornal francês Libération, três homens - incluindo os dois que apresentaram denúncias ; acusaram o núncio de agressões sexuais e pediram a retirada de sua imunidade diplomática para a continuidade da investigação. "Estamos na impossibilidade de fazer valer nossos direitos", afirmaram em uma carta aberta no jornal, na qual solicitam que o presidente francês Emmanuel Macron interceda na questão.

"No momento em que o Vaticano pretende mostrar tolerância zero ante os crimes sexuais cometidos por seus membros, seria inconcebível que Ventura apelasse à imunidade diplomática", declaram.

Com sua imunidade, os diplomatas não têm a princípio a obrigação de comparecer às jurisdições francesas das áreas penal, civil e administrativa. A imunidade só pode ser retirada pelo país que o embaixador representa. O Estado francês pode declarar ;persona non grata; um representante estrangeiro, que neste caso deve retornar a seu país.

O núncio e diplomata Luigi Ventura ocupa seu cargo em Paris desde 2009. Antes foi padre nas nunciatura do Brasil, Bolívia e Reino Unido. Depois atuou como núncio apostólico na Costa do Marfim, Burkina Faso, Níger e Chile.

Na quinta-feira, a nunciatura de Ottawa, Canadá, confirmou à AFP que uma denúncia foi apresentada neste país contra Ventura por suposta agressão sexual. Ventura foi núncio apostólico no Canadá entre 2001 e 2009.