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Para especialistas, chances de guerra com a Venezuela são pequenas

Na avaliação deles, o governo brasileiro tem adotado uma postura "prudente", após Maduro decretar o fechamento da fronteira

O anúncio do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que fecharia a fronteira com o Brasil, com o consequente envio das forças armadas do país para a zona fronteiriça, causou certa apreensão aos brasileiros. A tensão ficou ainda maior depois que ao menos duas pessoas morreram e outras 15 ficaram feridas em um conflito entre indígenas e militares venezuelanos na região, nesta sexta-feira (22/2).

Especialistas consultados pelo Correio, porém, minimizam a possibilidade de uma guerra com o país vizinho. Na avaliação deles, o governo brasileiro tem adotado uma postura "prudente" em relação ao conflito com Maduro.

"Até o presente momento, as chances são pequenas. Obviamente que isso passa pela vontade das partes de criar algum tipo de confronto mais grave. O Brasil não quer confusão. A questão é saber até que ponto Maduro quer levar a narrativa de confrontação", avaliou o cientista político e assessor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB).

A opinião é corroborada pelo coordenador do MBA de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel. Para ele, o governo brasileiro já "deixou muito claro que descarta atravessar a fronteira". Um ataque por parte do presidente venezuelano, segundo Stuenkel, também parece improvável. "O principal desafio de Maduro agora é assegurar que as forças armadas continuem apoiando ele, mas não me parece que ele busque um confronto direto com outro país. Ele está muito fragilizado, não tem incentivo para pedir uma ação mais ofensiva para as suas forças armadas", pontuou. Os riscos maiores, para o docente, são na fronteira com a Colômbia.

De fato, a postura do governo brasileiro em relação à crise na fronteira parece ser de cautela. Em entrevista à BBC News Brasil nessa quinta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão ; que, inclusive, vai representar em uma reunião do Grupo de Lima que discutirá a situação da Venezuela, na próxima segunda-feira ; disse não ver chances de um conflito regional.

"Da nossa parte, nós jamais entraremos em uma situação bélica com a Venezuela, a não ser que sejamos atacados. Aí é diferente. Mas eu acho que o Maduro não é tão louco a esse ponto, né?", afirmou Mourão. "O Brasil tem um pensamento, há anos, de não interferir em assuntos internos de outros países. Então, não fazemos nenhum avanço militar sobre o território venezuelano", enfatizou.

Bem antes, em 23 de janeiro, quando vários países, incluindo os Estados Unidos e o Brasil, reconheceram o líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente da Venezuela, o presidente Jair Bolsonaro chegou a avaliar que havia "países fortes dispostos a outras consequências" para "restabelecer a democracia" no país vizinho. O Brasil, porém, de acordo com Bolsonaro à época, já estava "no limite" do que poderia fazer, descartando, assim, uma possível ação militar.