O crescimento britânico desacelerou drasticamente para 1,4% em 2018, o menor em seis anos, sofrendo com as incertezas relacionadas ao Brexit e obscurecendo as perspectivas para 2019.
Faltando menos de dois meses para a saída da União Europeia, os números do Escritório Nacional de Estatísticas publicados nesta segunda-feira caíram como ducha de água fria. Enquanto o PIB do país cresceu 1,8% em 2017, perdeu claramente o ritmo no ano passado, especialmente no quarto trimestre, quando subiu apenas 0,2%.
A perda de fôlego foi particularmente pronunciada em dezembro e em todos os setores (construção, produção industrial e serviços). Como resultado, o crescimento anual foi o menor desde 2012 e o país está numa situação econômica complicada diante de sua saída da UE, prevista para 29 de março.
A desaceleração da atividade econômica deve continuar pelo menos durante o inverno. Em janeiro, o acordo sobre as modalidades do Brexit concluído pela primeira-ministra britânica, Theresa May, com os líderes dos outros 27 países da UE foi esmagadoramente rejeitado pelos deputados, aumentando as dúvidas em torno do Brexit.
As discussões, desde então, estagnaram, particularmente em torno do "bacsktop" irlandês. A atmosfera é tensa no Palácio de Westminster, onde, por coincidência, obras de restauração foram realizadas neste fim de semana após a queda de uma peça de alvenaria.
"A incerteza do Brexit deve pesar ainda mais no primeiro trimestre, uma vez que há poucas chances de retomada do crescimento no início deste ano", alertou Paul Dales, analista da Capital Economics, referindo-se às perspectivas dos próximos meses.
Na quinta-feira, o Banco da Inglaterra (BoE) reduziu drasticamente sua previsão de crescimento para 2019, para 1,2%, o que seria o resultado mais fraco desde o fim da crise financeira internacional 10 anos atrás.
O diretor da instituição, Mark Carney, cujo mandato foi prorrogado até 2020 para garantir a estabilidade neste período de incerteza, apontou para o "nevoeiro do Brexit". Mas o BoE também explicou parte da desaceleração devido à conjuntura global, da China aos Estados Unidos, passando pela zona do euro.
- ;Prudência; das empresas -
A previsão de crescimento reduzido para este ano no Reino Unido pode ser ainda menor, se o país deixar a UE sem um acordo.
Na quinta-feira, Carney alertou que a economia do Reino Unido ainda não está pronta para tal cenário, o pior possível para a comunidade empresarial.
As empresas estão mantendo uma postura cautelosa em termos de investimentos (-1,4% no quarto trimestre), diante do agravamento do bloqueio político.
Trata-se do quarto trimestre consecutivo de queda neste indicador crucial para medir o otimismo do setor privado, o primeiro desde a crise financeira internacional.
Sinal dessa tensão, a montadora japonesa Nissan desistiu, no início de fevereiro, de montar um de seus novos modelos em sua fábrica no nordeste da Inglaterra, uma decisão que teve grande efeito no país.
Mas o consumo das famílias, que tem resistido até agora, não mostrou um maior dinamismo (apenas 0,4%), enquanto um mercado imobiliário lento também pesou na propensão a gastar.
"A atividade econômica no Reino Unido caiu claramente no final de 2018, já que as incertezas econômicas e políticas ligadas ao Brexit pressionaram as empresas a serem cautelosas. E também há sinais de que os consumidores têm esperado mais, apesar do aumento do poder de compra", explicou Howard Archer, economista do EY Item Club.