;Em dezembro do ano passado, eu me tornei a primeira pessoa nascida na Noruega, após a Segunda Guerra Mundial, aceita como refugiada devido a uma perseguição ilegal;, afirmou, em entrevista ao Correio, Silje Garmo, que fugiu para a Polônia com a filha Eira. ;Essa perseguição ilegal foi a base para a concessão do asilo político. Na minha opinião, isso é uma grande vergonha para a nossa nação;, acrescentou (leia Três perguntas para).
[SAIBAMAIS]Garmo fugiu da Noruega em maio de 2017, quando estava internada em uma unidade utilizada pelo Barnevernet para manter mães e pais sob vigilância. Ela foi obrigada a ir para esse local depois de perder a guarda da filha mais velha, Froy, encaminhada pelo órgão para morar com o pai biológico. Garmo decidiu fugir do país ao ser informada por advogados de que estava prestes a perder também a custódia de Eira. O motivo alegado pelos conselheiros tutelares do Barnevernet é que ela abusava de analgésicos e sofria de fadiga crônica.
Investidos de amplos poderes, os funcionários do Serviço de Bem-Estar Infantil não dependem de autorização judicial para separar os filhos da família e encaminhá-los a abrigos, instituições de tratamento ou pais adotivos. Segundo a legislação de proteção infantil da Noruega, vizinhos e escolas são obrigados a relatar ao Barnevernet qualquer indício de maus-tratos contra os menores. A partir de determinada denúncia, uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogos e assistentes sociais, abre uma investigação, que pode resultar na decisão de retirada da custódia familiar. Nesse caso, os conselheiros tutelares, sempre acompanhados por policiais, apreendem a criança ou o adolescente em casa, na escola ou em qualquer outro local.
No caso de Silje e da filha Eira, o governo polonês decidiu conceder o asilo após concluir que elas corriam o risco de ser separadas sem um motivo justo. No momento, Varsóvia analisa outro pedido semelhante de asilo de uma mãe norueguesa, apresentado pela mesma motivação.
Alvo de protestos e denúncias de famílias, ativistas e governos de vários países, o Barnevernet foi comparado pelo presidente tcheco, Milos Zeman, a um ;programa dos tempos do nazismo;. Segundo o site oficial de estatísticas da Noruega (www.ssb.no), 10.169 crianças e adolescentes eram mantidos longe dos pais em 2017.
Expulsão
O cônsul polonês em Oslo, Sawomir Kowalski, teve a expulsão anunciada em 22 de janeiro. Foi a demonstração extrema do incômodo causado por seu trabalho no país nórdico, onde ele prestou apoio a pelo menos 150 famílias polonesas que enfrentaram a perda dos filhos em decorrência de decisões do Barnevernet.;A razão por trás da expulsão do diplomata é seu envolvimento em alguns assuntos que não estão de acordo com suas obrigações oficiais, além do comportamento inadequado em relação a alguns funcionários públicos;, disse Ane Haavardsdatter, porta-voz da diplomacia norueguesa.
O diplomata é bastante prestigiado em seu país. Em 2016, recebeu do governo polonês o título de ;cônsul do ano;, em reconhecimento a sua ;cooperação adequada e hábil com parceiros noruegueses em matéria de poloneses menores de idade que permanecem sob os cuidados dos serviços locais de bem-estar infantil;.
Não é de hoje que a presença de Kowalski é motivo de dor de cabeça para as autoridades da Noruega. Em junho de 2018, em um condado perto de Oslo, ele foi impedido por conselheiros tutelares e policiais de entrar no prédio onde estava uma família polonesa que pediu ajuda para não perder o filho de 6 anos. Isso apesar de a Convenção de Viena sobre Relações Consulares assegurar, entre outras prerrogativas dos diplomatas, a de ;proteger no Estado receptor os interesses do Estado que o envia e de seus nacionais, tanto indivíduos como corporações;, além de ;ajudar e assistir os nacionais, pessoas singulares e coletivas, do Estado acreditante;.