Tóquio, Japão - O tribunal de Tóquio rejeitou, nesta terça-feira (15/1), o pedido de liberdade sob fiança do presidente da Renault, Carlos Ghosn, detido há dois meses no Japão por crimes financeiros.
De acordo com o canal público de televisão NHK, o tribunal considerou que existe um risco de destruição de provas.
Esta foi a segunda rejeição este mês ao pedido de seus advogados de liberdade sob fiança para Ghosn.
Preso desde 19 de novembro em Tóquio, Carlos Ghosn, de 64 anos, foi considerado culpado na última sexta-feira por abuso de confiança e ocultação de rendimentos provenientes da Nissan entre 2015 e 2018.
A acusação de abuso de confiança é a mais grave, segundo os juristas.
O advogado de defesa pode apelar da decisão. Se um juiz de alçada confirmar a decisão inicial, Ghosn permanecerá em prisão provisória até pelo menos 10 de março.
A detenção poderá ser prolongada a pedido da Procuradoria por um período de um mês.
Na sexta-feira, o tribunal autorizou as visitas de sua família, além das de seus advogados e funcionários dos consulados da França, do Líbano e do Brasil, os três países onde tem cidadania.
Na semana passada, Carlos Ghosn compareceu pela primeira vez ante tribunal, mais magro e algemado até entrar na sala de audiência. Ele declarou que foi "falsamente acusado e injustamente detido", negando as acusações contra ele, ponto por ponto.
Nesta audiência excepcional, o juiz havia justificado que ele continuaria preso devido ao risco de fuga e adulteração de provas.
Desde sua prisão, o empresário está em um centro de detenção no norte da capital japonesa. Estima-se que o início do julgamento de Ghosn, que pode ser condenado a até 15 anos de prisão, levará vários meses.
Sua esposa, Carole Ghosn, até então em silêncio, expressou sua preocupação em um comunicado sobre seu estado de saúde, lamentando "duras condições de detenção e tratamento injusto". "Estamos angustiados", disse a esposa.
"Todos os dias, durante horas, os inspetores interrogam-no, intimidam-no, dão-lhe um sermão e o aconselham com o objetivo de extrair uma confissão", escreveu Carole Ghosn.
"Peço à ONG Human Rights Watch que se concentre em seu caso [...] para pressionar o governo a reformar o seu sistema draconiano de detenção e interrogatório", solicitou a esposa do presidente da Nissan e Mitsubishi Motors.
O vice-procurador, Shin Kukimoto, declarou na sexta-feira que "esse tipo de reação era esperada", uma vez que a investigação "envolve uma pessoa conhecida mundialmente".
Durante este período, a tensão só aumentou na aliança automotiva.
A Renault denunciou "uma campanha de desestabilização deliberadamente orquestrada" depois que surgiram notícias sobre uma pessoa próxima a Ghosn.
De acordo com documentos consultados pela AFP, Mouna Sepehri, diretora delegada na presidência da Renault, recebeu cerca de 500.000 euros distribuídos ao longo de vários anos como membro do conselho da aliança Renault-Nissan. Mouna "é a única" integrante do conselho que recebeu remuneração da sociedade Renault-Nissan BV (RNBV).
A RNBV é a holding holandesa que administra a aliança entre as montadoras francesa e japonesa.
Na Nissan, outro dos grandes aliados de Ghosn, José Muñoz, renunciou na sexta-feira como chefe de operações.
Uma fonte próxima ao caso disse que este executivo se recusou a cooperar na investigação interna que está sendo realizada.
Entre as mais recentes acusações do grupo, o presidente da aliança teria recebido uma remunieração de mais de 7 milhões de euros em 2018 por uma subsidiária holandesa (NMBV) sem a aprovação das mais altas autoridades das fabricantes japonesa Nissan (Hiroto Saikawa) e Mitsubishi Motors (Osamu Masuko), detalhou uma fonte próxima ao caso.
Isso significa que o NMBV pagou generosamente Ghosn, "enquanto ele participou de apenas uma reunião operacional em agosto", acrescentou a fonte.
No entanto, a AFP não pôde consultar nenhum documento para confirmar as acusações que não fazem parte da investigação judicial neste momento.
O caso também menciona a existência de residências de luxo em Beirute, Rio de Janeiro e Paris, custeadas pela Nissan, pagamentos a uma irmã de Ghosn por uma assessoria "fictícia" bem como doações no Líbano e em outros lugares.