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Opositor Tshisekedi conquista presidência da República do Congo

Segundo colocado, Martin Fayulu, denunciou um "golpe eleitoral" e os partidários dele dizem que as eleições foram roubadas

Kinshasa, RD Congo - A República Democrática do Congo (RDC) inicia nesta quinta-feira uma alternância histórica com o anúncio da vitória eleitoral de um opositor, Félix Tshisekedi, um resultado contestado por outra parte da oposição, o que provocou protestos que deixaram mortos.

Na primeira transição democrática desde a independência, em 1960, a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) declarou Felix Tshisekedi, de 55 anos, vencedor com 38,6% dos votos, à frente de outro candidato da oposição, Martin Fayulu, com 34,8%, segundo resultados provisórios.

Anunciada após uma longa espera, nas primeiras horas do dia, a notícia foi recebida com alvoroço por multidões de jovens nas ruas de Kinshasa e Goma (leste), aos gritos de "graças a Deus". Mas a insatisfação dos partidários de Fayulu também se fez ouvir, e alguns de seus redutos eleitorais foram palco de atos de violência, em particular Kikwit (oeste), onde dois policiais e dois civis morreram. "Na operação para restabelecer a ordem pública nesta quinta-feira em Kikwit, dois policiais e dois civis morreram. Temos também 10 feridos", disse à AFP o general Dieudonné Mutepeke, chefe de polícia desta cidade do oeste do país.

Fayulu denunciou um "golpe eleitoral", enquanto seus partidários insistiram que "nos roubaram a vitória". A Igreja Católica local também questionou os resultados. A União Africana (UA) advertiu, por sua vez, que a contestação dos resultados precisa acontecer "pacificamente", e insistiu na necessidade de "consolidar a democracia e preservar a paz", segundo declarou o presidente Musa Faki Mahamat.

Homenagem a Kabila


Em suas primeiras declarações, Tshisekedi prestou homenagem a Joseph Kabila: "Hoje, não precisamos considerá-lo mais como um adversário, mas como um parceiro na alternância democrática de nosso país". "Estou feliz por vocês, congoleses. Todos achavam que esse processo terminaria em confrontos e violência, com sangue derramado", disse ele. "Ninguém poderia imaginar tal cenário, em que um candidato da oposição sairia vitorioso", acrescentou.

O candidato do governo cessante, o ex-ministro do Interior Emmanuel Ramazani Shadary, ficou em terceiro lugar (23,8%). Os outros 18 candidatos receberam poucos votos. O resultado ainda pode ser apelado no Tribunal Constitucional, que deve publicar os definitivos em 15 de janeiro, de acordo com o calendário eleitoral, que está três dias atrasado. A posse está prevista para 18 de janeiro de acordo com esta agenda.

Nesta quinta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a todas as partes a "absterem-se de atos violentos" e "a resolver qualquer disputa eleitoral através dos mecanismos institucionais estabelecidos" na Constituição.

Mãos estendidas


Félix Tshisekedi é filho de uma grande figura da história política congolesa, Etienne Tshisekedi, que morreu em Bruxelas. Tshisekedi se aliou durante sua campanha ao ex-presidente da Assembleia Nacional Vital Kamerhe, que deve se tornar - se a vitória for confirmada - primeiro-ministro, segundo o acordo que alcançaram.

O secretário-geral da União para a Democracia e Progresso Social (UDPS), Jean-Marc Kabund, sugeriu "um encontro" entre Tshisekedi e Kabila "para preparar uma transferência pacífica e civilizada do poder", mesmo antes da proclamação dos resultados.

"Nós não vamos rejeitar a mão estendida porque há um tempo para tudo. Um tempo para se opor e disputar o eleitorado, mas também um tempo para se unir", reagiu o porta-voz do governo e do candidato do poder Lambert Mende, na rádio da ONU Okapi.

Em 2011, a reeleição do presidente Kabila foi marcada por protestos e, com dois anos de atraso, após 18 anos no poder, concordou em se retirar da corrida pela Constituição, que proíbe um terceiro mandato. Ele governou desde que seu pai e antecessor foi morto, em 16 de janeiro de 2001.