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Sem acordo sobre muro, governo dos EUA entra em paralisação parcial

O bloqueio atinge 25% dos organismos federais, o que pode afetar até 800 mil funcionários

O governo dos Estados Unidos entrou neste sábado (22/12) em paralisação parcial pela falta de acordo entre o Congresso e a Casa Branca sobre o financiamento do muro na fronteira com o México que o presidente Donald Trump deseja construir para frear a imigração.

A partir do primeiro minuto de sábado (3h01 de Brasília), algumas agências do governo federal fecharam as portas e centenas de milhares de funcionários foram obrigados a entrar em licença, sem direito a salário, enquanto outros devem trabalhar sem receber pagamento.

Para evitar o temido "shutdown" era necessário que o Congresso e a Casa Branca chegassem a um acordo, mas apesar dos esforços de última hora não foi alcançado ele sobre o muro. A construção da barreira foi uma das principais promessas de campanha de Trump e para o qual ele deseja cinco bilhões de dólares.

O Senado e a Câmara de Representantes devem retomar os debates ao meio-dia (15h00 de Brasília) deste sábado.

Quase 75% do governo, incluindo as Forças Armadas e o Departamento de Saúde, está totalmente financiado, o que garante o funcionamento normal. O bloqueio atinge os restantes 25% dos organismos federais, o que pode afetar até 800 mil funcionários.

Embora os serviços de segurança continuem operacionais, os efeitos da disputa orçamentária e a incerteza resultante levaram ventos de caos a Washington, que ainda sentia os tremores provocados pela renúncia do secretário de Defesa, Jim Mattis.

Wall Street teve sua pior semana em 10 anos e sofreu fortes perdas nas sexta-feira.
A maioria dos funcionários da Nasa deve permanecer em suas casas, assim como aqueles que trabalham no Departamento de Comércio e muitos funcionários do Departamento de Segurança Interna (DHS). Já os parques nacionais abrirão ao público, mas vários empregados não poderão trabalhar.

Posições irreconciliáveis

A incerteza sobre a duração da paralisação parcial é grande, já que as duas posições parecem irreconciliáveis.

Trump transformou a luta contra a imigração em seu principal objetivo e a construção do muro seria uma realização concreta de uma de suas promessas de campanha.

Durante a sexta-feira, Trump defendeu os méritos de construir um muro na fronteira com o México, que tem o custo avaliado em cinco bilhões de dólares.

Trump disse estar pronto para um ;shutdown; orçamentário, enquanto persegue a meta de obter recursos para o muro, o fio conduto de sua política migratória.

Em outubro, uma caravana de migrantes hondurenhos que deixou San Pedro Sula com destino aos Estados Unidos teve muita cobertura da mídia e chamou a atenção de Trump, que alimentou a campanha para as eleições de meio de mandato denunciando uma "invasão". Para Trump, o muro deve impedir os migrantes que desejam entrar nos Estados Unidos.

Após a sessão de sexta-feira no Congresso, Trump defendeu sua postura de maior segurança na fronteira em um vídeo no Twitter que mostra imagens de uma das caravanas de migrantes. "Esperemos que o bloqueio não dure muito", afirmou, ao pedir que os democratas cedam em sua posição.

Com a perspectiva de falta de verba federal, Brian Kolfage, um veterano da guerra no Iraque, iniciou um "crowdfunding" que na sexta-feira já somava mais de 11 milhões de dólares, cinco dias após o lançamento.

"O governo como refém"

Na quinta-feira, Trump advertiu que não promulgaria um projeto de acordo a curto prazo que permitiria prorrogar o financiamento do governo até 8 de fevereiro, se este não incluísse fundos suficientes para o controle das fronteiras. A oposição democrata se nega categoricamente a considerar a ideia.

"O presidente Trump queria uma paralisação do governo e agora ele tem isso. Depois de rejeitar uma oferta bipartidária de 1,6 bilhão para a segurança na fronteira que foi aprovada pelo Comitê de Atribuições do Senado, o presidente prefere manter o governo federal dos Estados Unidos como refém", afirmou em um comunicado o senador Bob Menéndez.

Trump anunciou que adiaria suas férias em Mar-a-Lago, na Flórida, para acompanhar as negociações. "Anulei minha viagem no Air Force One para a Flórida enquanto espero para ver se os democratas nos ajudarão a proteger a fronteira sul dos Estados Unidos", declarou o presidente no Twitter uma hora antes da Câmara suspender sua sessão.

Na prática, a paralisação ocorre na véspera do Natal e também em uma época em que muitos escritórios estão fechando os balanços no final do ano, o que minimiza seu impacto.