Agência France-Presse
postado em 14/12/2018 18:11
A candidata da Espanha no Miss Universo, que será realizado na segunda-feira em Bangcoc (domingo no horário de Brasília), é a primeira aspirante transgênero da história do concurso, onde quer representar a "diversidade dos seres humanos".
Angela Ponce, de 27 anos, que trabalha na Espanha em uma ONG que defende jovens transgêneros, explica à AFP a trajetória que a levou a este concurso.
O concurso Miss Universo, que completa 66 anos, teoricamente é aberto às pessoas transgênero desde 2012, mas até agora nenhuma delas tinha chegado a esta etapa do evento.
"Ter uma vagina não me transformou em mulher", aponta Angela Ponce, ao explicar que nasceu homem e ao comentar os planos do presidente americano, Donald Trump, de definir o gênero pelo sexo de nascimento.
Identidade de mulher
"Sou uma mulher desde antes de nascer, porque minha identidade está aqui", diz Ponce, apontando para a própria cabeça.
Ser uma mulher é uma "identidade", explica. "Não importa se você é branco, negro, se tem uma vagina ou um pênis".
"Represento uma diversidade de mulheres e de seres humanos, que se identificaram com minha vida", acrescenta Ponce, que diz esperar que as sociedades modernas aceitem cada vez mais as pessoas transgênero.
A Miss Espanha afirma ter sofrido "preconceitos" e "assédio", mas se mostra esperançosa com uma mudança de mentalidade.
"As crianças nascem sem preconceitos, e acredito que se falarmos com elas sobre a diversidade desde pequenas (...) poderemos educar uma nova geração de seres humanos muito mais tolerantes e respeitosos", diz.
Aparente tolerância
A sul-africana Demi-Leigh Nel-Peters, Miss Universo 2017, entregará a coroa a sua sucessora durante a cerimônia em Bangcoc, transmitida ao vivo para 94 países.
A Tailândia, país anfitrião deste concurso, é conhecida por sua tolerância em relação aos transgêneros e por suas operações de mudança de sexo. Por isso representa um claro contraste com os países vizinhos, de costumes mais conservadores, como Mianmar e Vietnã.
Mas por trás desta aparente tolerância, a Tailândia continua sendo uma nação conservadora, e as pessoas transgênero têm dificuldades para encontrar um emprego estável fora da indústria do sexo e do espetáculo.
Até 2012, a transidentidade era considerada uma doença mental pelo exército. A mudança de gênero não é sempre reconhecida legalmente, e nos passaportes fica indicado o sexo de nascimento.