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No Panamá, China busca ampliar comércio e influência na América Latina

O objetivo é criar um ponto de conexão logística para a expansão de seu comércio, investimentos e diplomacia na América Latina, uma ideia abraçada sem reservas por autoridades e empresários panamenhos

Panamá, Panamá - O presidente da China, Xi Jinping, assina vários acordos no Panamá nesta segunda-feira (3/12), com os quais busca ampliar, por intermédio do país centro-americano, o poder comercial e político de Pequim na América Latina, após a trégua alcançada com os Estados Unidos.

Primeiro presidente chinês a visitar o Panamá após o estabelecimento de relações diplomáticas em 2017, Xi deve firmar, junto com seu colega panamenho, Juan Carlos Varela, cerca de 20 acordos. "Revisaremos o avanço da relação bilateral entre Panamá e China em matéria de comércio, conectividade, cooperação, entre outros", tuitou Varela.

"Aspiramos a fortalecer os laços entre nossos países e o papel do Panamá como a grande conexão", acrescentou a vice-presidente e chanceler panamenha, Isabel de Saint Malo.

Há dias, Xi manifestou que tinha grandes expectativas com a visita, que faz parte da estratégia "Uma Faixa, uma Rota", um conjunto de iniciativas de Pequim para investir em infraestruturas no mundo todo. Para alguns analistas, trata-se, no entanto, de uma tentativa chinesa de expansão global.

"Devemos ser sócios de cooperação de benefício mútuo e ganhos compartilhados (...) tomar ;Uma Faixa, uma Rota; como fio condutor para aprofundar sem cessar a cooperação bilateral", disse Xi, em entrevista ao jornal "La Estrella de Panamá".

No Panamá, a China busca se tornar um ponto de conexão logística para a expansão de seu comércio, investimentos e diplomacia na América Latina, uma ideia abraçada sem reservas por autoridades e empresários panamenhos.

A favor do país centro-americano está sua posição geográfica, um canal interoceânico, conectividade aérea e portuária, uma economia dolarizada com um crescimento de 5% e um sistema financeiro com mais de 100 bancos.

"Normalmente, o Panamá desperta muito interesse por sua estratégica posição geográfica na região e o Canal, que nos levou a desenvolver um modo logístico e financeiro sob um clima político estável", disse à AFP o presidente do Conselho Nacional da Empresa Privada (Conep), Severo Sousa.

Isso "é muito atrativo" para "o interesse chinês e de outras potências" para se estender pela região através do Panamá, acrescenta.

"China não faz ;caridade"
Junto com os Estados Unidos, a China é o segundo usuário do Canal do Panamá, pelo qual passam 5% do comércio mundial. Além disso, é a principal origem das mercadorias distribuídas no continente pela zona franca panamenha de Colón, a maior da região.

O Panamá espera bilionários investimentos chineses em infraestrutura. Ambos os países negociam ainda um Tratado de Livre-Comércio, enquanto empresas chinesas começaram a ganhar licitações milionárias. "Os chineses não são a mãe da caridade, nem uma instituição beneficente. É um país que tem sua própria agenda e suas próprias metas e que vem ao Panamá porque é importante para seu esquema da Faixa e da Rota", explica o economista Francisco Bustamante à AFP.

"O que os chineses querem é bem claro: eles querem aproveitar a posição geográfica para sua expansão e seu desenvolvimento na região", acrescenta Bustamante, que trabalhou para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Especialistas acreditam que o Panamá possa buscar na China um novo apoio internacional diante as acusações de paraíso fiscal e sua aparição em listas negras da União Europeia (UE), ou de organismos como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Uma forte presença da China no Panamá reafirma, diante do mundo, a ascensão da China na hierarquia global, à custa da queda dos Estados Unidos", avalia Carlos Guevara Mann, professor de Relações Internacionais da Florida State University, no Panamá.

"Ficar preso na rivalidade entre China e Estados Unidos seria sumamente problemático para o Panamá", porque "poderia acarretar represálias por parte de Washington", acrescentou.