Kiev, Ucrânia - O presidente ucraniano Petro Poroshenko promulgou nesta quarta-feira (28/11) a lei marcial em seu país, em plena escalada de tensão com Moscou, e que pode provocar o cancelamento de um encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin.
Esta manhã, o presidente Poroshenko assinou a lei votada na segunda-feira (26/11) pelo Parlamento, anunciou um porta-voz, Sviatoslav Tsegolko. As condições da aplicação da lei marcial ainda não foram esclarecidas, mas foi introduzida por 30 dias em dez regiões fronteiriças e costeiras.
Inédita, essa medida foi tomada em resposta à apreensão pela Guarda Costeira russa de três navios da Marinha ucraniana no domingo no Mar Negro, ao longo da costa da península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rssia em 2014.
Trata-se do primeiro confronto militar aberto entre Moscou e Kiev desde esta anexação e o início, no mesmo ano, de um conflito armado no leste da Ucrânia entre as forças ucranianas e separatistas pró-russos que já fez mais de 10.000 mortos.
Nesta quarta, o presidente Putin declarou que as forças russas cumpriram seu dever "perfeitamente, com precisão", afirmando que as tripulações ucranianas não responderam às advertências russas.
No dia anterior à noite, Poroshenko acusou a Rússia de reforçar drasticamente sua presença militar na fronteira ucraniana, alertando para a "ameaça de uma guerra" com seu poderoso vizinho.
Em paralelo, Donald Trump ameaçou cancelar o encontro previsto para o final de semana com Vladimir Putin durante a cúpula do G20 na Argentina. "Eu não gosto desta agressão. Eu não quero agressões", insistiu o presidente americano, muitas vezes acusado de ser muito complacente com Moscou, e entrevista ao Washington Post.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, assegurou nesta quarta que a preparação do encontro continua, acrescentando "não ter informações" da parte americana. Este novo episódio de tensão também esteve no centro de conversas nesta quarta por telefone entre o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e seus colegas russo e ucraniano.
Erdogan e Putin trocaram ideias sobre "a estabilidade e a segurança no Mar Negro", declarou o Kremlin em um comunicado. Por sua vez, Poroshenko "pediu ao presidente turco que aumente a pressão sobre a Rússia em vista da libertação dos marinheiros e navios ucranianos", segundo a presidência ucraniana.
Acusados de cruzar ilegalmente a fronteira russa, quinze marinheiros ucranianos, dos 24 detidos no domingo, foram colocados em prisão provisória até 25 de janeiros. Os demais serão apresentando à justiça nesta quarta.
Caráter preventivo"
"Devemos todos estar prontos para repelir a agressão de nosso inimigo que, até pouco tempo, era apenas nosso vizinho", declarou nesta quarta-feira o chefe do governo ucraniano, Volodymyr Groisman, ao abrir o Conselho de ministros. Diante das inquietações, as autoridades ucranianas asseguraram que a lei marcial, que torna possível mobilizar os cidadãos, controlar os meios de comunicação e limitar os encontros públicos, é essencialmente preventiva.
"O objetivo da lei marcial é mostrar que o inimigo vai pagar caro se decidir nos atacar. Esta será uma ducha fria que vai parar os loucos que pretendem atacar a Ucrânia", disse na terça-feira à noite o presidente Poroshenko.
Ainda há dúvidas sobre a entrada em vigor da lei marcial, com algumas estruturas oficiais ucranianas mencionando esta quarta-feira e outras afirmando que ela entrou em vigor na segunda. O porta-voz da presidência não estava disponível para esclarecer esta situação e o ministério da Defesa deve realizar uma coletiva de imprensa esta tarde para explicar como a lei marcial será aplicada nas forças armadas.
Os navios ucranianos apreendidos tentavam chegar ao Mar de Azov através do estreito de Kerch, controlado pela Rússia.
Nesta quarta, o coronel russo Vadim Astafiev, porta-voz do distrito militar do sul da Rússia, informou que seu país pretende instalar um novo sistema de mísseis antiaéreo S-400 na Crimeia. "Num futuro próximo, o sistema de mísseis antiaéreos será colocado em posição de combate para proteger o espaço aéreo da federação russa", declarou, segundo a agência de notícias Interfax.