A polícia francesa lançou neste sábado (24/11) gás lacrimogêneo e jatos d;água contra manifestantes que participavam, no centro de Paris, da mobilização dos "coletes amarelos" contra o aumento dos combustíveis e a perda de poder aquisitivo na França.
Cerca de 3 mil policiais foram mobilizados na capital francesa contra os manifestantes, que, na última semana, protestaram bloqueando estradas e centros comerciais.
Milhares de manifestantes reuniram-se na primeira hora de hoje na avenida Champs-Élysées, onde enfrentaram a polícia, que tentava impedi-los de chegar á Praça da Concórdia, perto do Museu do Louvre e do Palácio do Eliseu.
Cerca de 106 mil pessoas manifestaram-se em toda a França, 8.000 delas na capital francesa, segundo o Ministério do Interior francês. No sábado passado, foram, segundo o ministério, 282.000 em todo o país.
O dia foi marcado pela troca de acusações políticas. O governo atribuiu essa violência à "extrema direita". Os partidos da oposição, tanto de direita quanto de esquerda, responderam criticando o governo de querer reduzir o movimento à violência e fazer ouvidos moucos às reivindicações dos manifestantes. "Vergonha daqueles que violentaram outros cidadãos e jornalistas [...] Não há lugar para essa violência na República", escreveu no Twitter o presidente francês ao fim do dia de protestos.
Caos na Champs Elysées
O ministério do Interior reportou 19 feridos, quatro deles entre as forças de segurança, contra 106 na semana anterior, acrescentou a mesma fonte. Houve 130 pessoas detidas, 42 delas em Paris, acrescentou. A avenida parisiense da Champs Elysées, onde as autoridades não haviam dado permissão para protestos, foi o principal cenário dos incidentes do dia.
A via estava interrompida pelos manifestantes, que atiraram projéteis, montaram barricadas e queimaram mobiliário urbano, enquanto a tropa de choque da Polícia tentava fazê-los recuar com bombas de gás lacrimogêneo e caminhões hidrantes. Os bombeiros intervieram para apagar as barricadas incendiárias, das quais saía uma espessa fumaça preta que se misturava à nuvem de gases lacrimogêneos. No começo da noite, a calma voltou ao centro da capital.
Muitos atos pacíficos, como manifestações, bloqueios em rodovias e em áreas comerciais foram realizados em quase toda a França, no âmbito deste segundo dia de mobilização, uma semana depois do começo do movimento.
"Macron, demissão"
"Protesto tanto pela minha avó, que está aposentada, como pelo futuro do meu filho de três anos", declarou à AFP Mickael, um "colete amarelo" do oeste da França, que participava de uma operação de pedágio gratuito na rodovia. Em Paris, com exceção de um grupo de manifestantes, o protesto quis se mostrar pacífico.
"Não estamos aqui para derrubar policiais, viemos para que o governo nos escute, que escute seu povo. Aqui não queremos política, nem sindicato. Denunciamos a violência dos pseudo-manifestantes", declarou à AFP Laetitia Dewalle, de 37 anos, uma das porta-vozes dos "coletes amarelos". Este "ato 2" não teve tanto êxito quanto a mobilização do sábado passado, quando cerca de 300.000 personas bloquearam estradas e locais estratégicos por todo o país, seguidos por uma semana de bloqueios que foram perdendo intensidade.
;É a manifestação maciça do povo;
Os incidentes do sábado provocaram as reações dos políticos. O ministro Castaner culpou pela violência a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, considerando que "subversivos" responderam à sua convocação de marchar pela Champs Elysées.
Le Pen rejeitou estas acusações, afirmando que ela nunca pediu violência e após o dia de protestos, constatou em sua conta no Twitter que o governo não tinha resposta às reivindicações dos manifestantes. "Castaner gostaria que a manifestação dos #GiletsJaunes [Coletes amarelos] fosse de extrema direita e pouco numerosa. A verdade é que é a manifestação maciça do povo", reagiu no Twitter Jean-Luc Mélenchon, líder das fileiras da França Insubmissa (esquerda radical).
Resta saber se esta mobilização mudará a política de Macron, centro da revolta dos manifestantes, que repetiam em coro palavras de ordem como "Macron demissão" e "Macron devolva o dinheiro". Macron por enquanto não parece disposto a mudar o ritmo de suas reformas para "transformar" a França ou renunciar à elevação do preço dos combustíveis, tudo isso para "manter o rumo a favor da transição ecológica".
No entanto, segundo a imprensa francesa, poderia anunciar na terça-feira novas medidas destinadas às famílias mais modestas para evitar o risco de uma "fraemtura" social.