Washington, Estados Unidos - A ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama diz que "nunca perdoará" Donald Trump por questionar a cidadania americana de seu marido, dizendo que o presidente e outros membros do grupo conhecido como "birthers" colocaram a família dela em risco, em seu novo livro de memórias.
Michelle também diz que ficou surpresa com o fato de tantas mulheres americanas terem votado no "misógino" Trump e contra Hillary Clinton, "uma candidata excepcionalmente qualificada" na eleição de 2016.
O livro, intitulado "Becoming", chega às lojas na terça-feira. Michelle Obama, de 54 anos, visitará várias cidades para promover seu livro de memórias, e amigos famosos como Oprah Winfrey e Reese Witherspoon moderarão os eventos.
É um dos livros mais aguardados sobre a política dos EUA em anos, e Michelle não mede as palavras sobre o sucessor de seu marido - e seu envolvimento na promoção da ideia de que Barack Obama nasceu no exterior.
"A coisa toda [dos birthers] era louca e mal-intencionada, é claro, seu preconceito e xenofobia subjacentes dificilmente escondidos", afirma Michelle em trechos do livro divulgados por ABC News e The Washington Post.
"Mas isso também era perigoso, deliberadamente destinado a agitar os desequilibrados e os malucos", acrescenta.
"E se alguém com uma mente instável carregasse uma arma e dirigisse para Washington? E se essa pessoa fosse atrás de nossas garotas?", continua.
"Donald Trump, com suas insinuações barulhentas e imprudentes, estava colocando a segurança da minha família em risco. E por isso eu nunca o perdoaria".
Michelle também disse que seu corpo "zumbiu de raiva" depois de ouvir a fita do "Access Hollywood" na qual Trump se gabava de poder de agarrar as mulheres impunemente.
Trump não demorou a responder. "Michelle Obama recebeu muito dinheiro para escrever um livro e eles sempre insistem em que você crie polêmica", disse Trump a repórteres na Casa Branca antes de viajar para a França.
"Eu nunca vou perdoá-lo pelo que ele fez ao nosso exército dos Estados Unidos por não financiá-lo adequadamente. (...) O que ele fez com os nossos militares tornou este país não seguro".
História pessoal
No livro, a primeira primeira-dama negra dos Estados Unidos da América vai além da política, mergulhando fundo em algumas questões pessoais, desde um aborto espontâneo ao uso de fertilização in vitro para conceber suas filhas, passando por aconselhamento matrimonial.
"Eu me senti perdida e sozinha, e senti como se tivesse falhado porque não sabia como os abortos eram comuns, porque não falamos sobre eles", disse Michelle à ABC News em uma entrevista. "Nós assistimos nossa própria dor, pensando que de alguma forma estamos quebradas".
Os tratamentos de fertilidade permitiram-lhe conceber as filhas Malia, hoje com 20 anos, e Sasha, de 17 anos.
"Acontece que até mesmo duas pessoas batalhadoras comprometidas com um amor profundo e uma ética de trabalho robusta não conseguem engravidar apenas pela vontade", escreve.
"Tivemos que fazer fertilização in vitro", disse à ABC, em trechos de uma entrevista que vai ao ar na íntegra no domingo.
Ela revisita a emoção de seu romance com Barack, que começou quando eles trabalharam juntos em um escritório de advocacia de Chicago: uma "explosão de desejo, gratidão, satisfação, fascinação".
Mas ela admite que o casal recorreu à terapia algumas vezes, onde eles "aprenderam a conversar" sobre seus problemas.
Após a eleição de Trump, os Obama desapareceram dos holofotes por um tempo, recolhendo-se em sua mansão em uma área nobre da capital americana e abstendo-se de declarações abertamente políticas.
Esse silêncio já passou. No período que antecedeu as eleições de meio de mandato, o ex-presidente fez campanha ativamente para candidatos democratas, e a ex-primeira-dama discursou em comícios para estimular o voto.
Michelle Obama terá mais oportunidades de falar durante sua turnê do livro, que começa em sua cidade natal, Chicago, e irá para Nova York, Washington, Los Angeles, Boston e outras cidades.
Alguns esperam que ela acabe decidindo entrar para a política, talvez em 2020, mas seus comentários em "Becoming" fazem com que essa hipótese pareça improvável.
"Eu nunca fui fã de política, e minha experiência nos últimos 10 anos não fez muito para mudar isso. A maldade continua me desanimando", escreveu.