Uma investigação conduzida pelas Nações Unidas nas regiões do Iraque que foram controladas pelo Estado Islâmico (EI) de 2014 a 2017 revelam que até 12 mil corpos podem ter sido jogados em mais de 200 valas comuns abertas pelo grupo em diversas províncias do país. A avaliação da ONU, porém, é que o número de vítimas do grupo jihadista seja ainda maior e que as descobertas mostrem apenas uma parte da repressão conduzida pelos extremistas.
Em relatório publicado nesta terça-feira, 6, em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos apelou para que Bagdá proteja os locais para que as famílias de milhares de desaparecidos possam encontrar os restos de seus parentes. Os locais servirão como prova dos crimes cometidos pelo EI.
Em 2014, o grupo extremista capturou vastas áreas do Iraque, incluindo a segunda maior cidade do país, Mossul. Por três anos, os jihadistas atacaram residentes locais, executaram milhares de pessoas que teriam resistido ao autodeclarado califado e cometeram atrocidades contra minorias, além de manter mulheres como escravas sexuais. Apenas em 2017 a coalizão liderada pelos EUA conseguiu derrotá-los.
Agora, o rastro da destruição causada pelo EI começa a ser revelado. Por enquanto, apenas 10% das valas comuns encontradas em regiões como Nínive, Kirkuk, Salaheddine e Anbar foram investigadas. Num total, apenas 1258 corpos foram exumados.
Segundo a investigação, os mortos encontrados nessas valas comuns incluem crianças, idosos, pessoas com deficiências e mulheres, além de policiais e soldados iraquianos.
Essas mortes fariam parte do que a ONU chama de "campanha de violência sistemática e generalizada". A entidade não hesita em afirmar que tais atos podem constituir "crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio".
De uma forma geral, a ONU estima que o controle dos territórios iraquianos pelos extremistas deixou mais de 33 mil mortos e 50 mil feridos ao longo de três anos. Uma parte dessas vítimas estaria enterrada nessas valas comuns.
Os investigadores apontam para a dificuldade em definir o número exato de corpos ainda existentes nessas valas. A menor delas, em Mossul, foi encontrada com apenas oito vítimas. Outra fossa em Khasfa, no entanto, teria mais de mil corpos.
A esperança é de que, com material forense, equipes internacionais possam entender a dimensão dos crimes cometidos pelo EI. "As evidências coletadas desses locais podem ser fundamentais em garantir investigações, um processo e condenações de acordo com padrões internacionais", apontou o documento da ONU.
"As valas comuns documentadas em nosso relatório são testamentos da perda de vida humana, profundo sofrimento e crueldade", disse Ján Kubi;, representante do Secretário-Geral da ONU para o Iraque. "Determinar as circunstâncias dessas mortes seria um passo importante no processo de luto para as famílias e sua busca pelo direito à Justiça e verdade", completou.