Antananarivo, Madagascar - Os habitantes de Madagascar irão às urnas na quarta-feira (7) para participar do primeiro turno das eleições presidenciais, que são cruciais para a paz nesta ilha africana do Oceano Índico.
Os principais favoritos são três ex-presidentes, protagonistas das turbulências políticas que afetaram a ilha durante as duas últimas décadas.
"O desafio destas eleições será consolidar a paz", após as trágicas crises político-militares de 2002 e 2008, e as tensões da primavera passada por conta das polêmicas leis eleitorais, explicou à AFP Sahondra Rabenarivo, membro do Observatório Malgache da Vida Pública (Sefafi).
Depois da independência em 1960, praticamente não houve disputa eleitoral em Madagascar sem "protestos radicais e confrontos violentos", segundo o Sefafi.
Até 36 candidatos participam das eleições presidenciais de quarta-feira. Entre eles há quatro ex-presidentes, vários ex-primeiros-ministros, dois pastores e um cantor muito famoso na ilha.
Esta longa lista de candidatos reflete, segundo Sefafi, "a fraqueza dos partidos políticos" nesta jovem democracia.
Segundo os analistas e uma pesquisa proibida publicada no fim de setembro, três ex-presidentes disputam a vitória: Marc Ravalomanana (2002-2009), Andry Rajoelina (2009-2014) e Hery Rajaonarimampianina (2014-setembro de 2018).
E o presidente em fim de mandato, Rajaonarimampianina, parece ter perdido terreno nas últimas semanas, depois de não contar mais com o apoio de vários deputados e de um ex-conselheiro.
As prioridades dos habitantes em Madagascar, um dos países mais pobres do mundo, são a luta contra o desemprego, a insegurança e o acesso à água potável e à eletricidade.
"O povo malgache sofre para além de suas forças. Em 48 anos vi esse país afundar ano após anos", assegura, indignado, o padre Pedro, que ajuda os mais pobres em Antananarivo, a capital.
"A pobreza não caiu do céu, foi criada pelos políticos deste país", que possui grandes reservas de minerais, critica o padre Pedro.
A maioria dos candidatos compartilha o mesmo objetivo: o desenvolvimento de Madagascar. Mas eles prometem "sem explicar como vão consegui-lo", lamenta Rabenarivo.
Contas pendentes
As presidenciais também devem servir para "solucionar pelas urnas as contas pendentes de 2009" entre Ravalomana e Rajoelina, que foram proibidos de se candidatar em 2013, explica o membro do Sefafi.
Após várias semanas de confrontos violentos em 2009, o presidente Ravalomana cedeu o poder ao Exército que, por sua vez, confiou no jovem Rajoelina, então prefeito de Antananarivo.
Ravalomana e Rajoelina, que eram adversários políticos, se aliaram contra o regime de Rajaonarimampianina, acusado de querer silenciar a oposição.
Depois de semanas de manifestações, nas quais morreram duas pessoas, foi formado um governo de coalizão para acabar com a instabilidade.
Agora, os principais atores desta crise disputam o cargo de chefe de Estado. A campanha tem sido tranquila, mas existe "o risco de haver sobressaltos", advertem os analistas.
"É muito importante que o resultado seja crível (..) e que o terceiro (colocado) aceite" o fato de não ir para o segundo turno, afirma Rabenarivo.
Cerca de 20 candidatos denunciaram irregularidades nas listas eleitorais e pediram que adiem a votação.