London, Reino Unido - A primeira-ministra britânica, Theresa May, enfrentou a oposição de aliados e adversários à ideia de prolongar o período de transição após o Brexit, aumentando o risco de acabar saindo da UE sem acordo. "Traição", gritou o líder do partido antieuropeu UKIP, Gerard Batten.
John McDonnell, do opositor Partido Trabalhista, alertou: "Não participaremos de nenhuma forma de subterfúgio".
"É adiar, um pouco mais, a queda do abismo", condenou Tom Brake, do Partido Liberal-Democrata, de centro, que milita pela organização de um segundo referendo - uma opção que deve reunir milhares de partidários em uma grande manifestação em Londres.
Mas o ataque mais duro a May veio das fileiras de seu próprio Partido Consevador. "Pedimos que você deixe claro que não vinculará o Reino Unido ao purgatório de adesão perpétua à união aduaneira da UE", escreveram seis deputados conservadores liderados pelo ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson e ex-ministro da Brexit David Davis - que renunciaram em julho após desentendimento com May - no The Telegraph.
Os britânicos não perdoariam que as vantagens potenciais do Brexit fossem "sacrificadas devido ao assédio da UE e ao desespero do governo para chegar a um acordo", disseram eles.
Qualquer acordo alcançado entre Londres e Bruxelas deve ser ratificado pelo Parlamento britânico, onde bastaria que alguns conservadores rebeldes votassem com a oposição para que o projeto de lei de May fosse rejeitado.
O país tem previsto sair da UE em 29 de março de 2019, com ou sem acordo, mas neste segundo caso não haverá período de transição que leve a uma situação caótica com consequências imprevisíveis.
A primeira-ministra, cuja liderança foi questionada desde que perdeu a maioria absoluta nas primeiras eleições de 2017, "agora está perdendo a confiança dos colegas de todas as opiniões", resumiu o deputado conservador Nick Boles em declarações à rádio BBC.
"Chegou a hora de dar um passo ao lado e deixar alguém que sabe como negociar", tuitou a conservadora, Nadine Dorris.
Investigação
Os eurocéticos argumentam que prolongar a transição, inicialmente planejada até o final de 2020, significaria continuar pagando a contribuição anual de 10 bilhões de libras a Bruxelas.
Também significaria manter as fronteiras do Reino Unido abertas aos europeus, quando o controle da imigração foi um dos argumentos centrais do campo pró-Brexit no referendo de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram para deixar a UE.
A proposta de estender a transitoriedade procura adiar o principal obstáculo nas negociações: a fronteira irlandesa. May destacou que, se houvesse um acordo mais rápido sobre esta questão - algo altamente improvável -, não haveria necessidade de usar a extensão.
"May lançou uma investigação ao afirmar que está aberta a uma extensão, mas propondo que seja uma opção de último recurso e por alguns meses, demonstrando sua preocupação pela reação política", diz Danielle Haralambous, analista da Economist Intelligence Unit.
Ela acrescenta: "Também tem interesse em que todo o processo do Brexit tenha terminado bem antes das eleições" legislativas de maio de 2022, que os conservadores teriam dificuldade em ganhar se o país continuasse sujeito às regras da UE.
Durante o período de transição, o Reino Unido deve continuar a ser regido por normas europeias, mas sem poder participar das decisões do bloco ou negociar os principais acordos comerciais com países terceiros que assim desejar.