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Anistia: Nicarágua cometeu violações graves durante 'operação limpeza'

Desde junho, o governo de Ortega "intensificou a estratégia de repressão" contra os manifestantes durante a "operação limpeza", iniciada para retomar o controle de cidades e estradas que estavam nas mãos dos manifestantes.

Madri, Espanha - As autoridades da Nicarágua cometeram violações graves dos direitos humanos em várias ocasiões durante a chamada "operação limpeza" destinada a eliminar barricadas, afirma a Anistia Internacional (AI) em um relatório divulgado no momento em que completam seis meses os protestos, reprimidos com violência no país.

Em muitas oportunidades, as violações dos direitos humanos foram cometidas "não apenas com o conhecimento das principais autoridades", incluindo o presidente Daniel Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, es sim sob sua "ordem e controle", denunciou a ONG de defesa dos direitos humanos.

Desde junho, o governo de Ortega "intensificou a estratégia de repressão" contra os manifestantes durante a "operação limpeza", iniciada para retomar o controle de cidades e estradas que estavam nas mãos dos manifestantes.

A AI cita no relatório "torturas, detenções arbitrárias e o uso generalizado e indiscriminado de força letal por parte da polícia e de forças parapoliciais fortemente armadas".

"As autoridades nicaraguenses devem desmantelar e desarmar imediatamente todas as forças parapoliciais e garantir que a polícia use a força apenas de maneira legítima, proporcional e necessária", destacou Erika Guevara Rosas, diretora para as Américas da Anistia Internacional.

"Ao invés de criminalizar os que protestam, chamando estas pessoas de ;terroristas; e de ;golpistas;, o presidente Ortega deve garantir os direitos das pessoas à reunião pacífica e à liberdade de expressão", completou.

O relatório documenta seis possíveis execuções extrajudiciais, que constituem crimes no direito internacional.

Uma delas foi a de Leyting Chavarría, de 16 anos, que morreu na cidade de Jinotega (norte). "De acordo com testemunhas, um policial matou Chavarría, que levava apenas um estilingue", afirma a ONG.

A Anistia também cita o caso Faber López, um policial antidistúrbios que "supostamente morreu nas mãos de agentes".

"Embora o governo tenha atribuído sua morte a ;terroristas;, a família afirmou que o corpo não tinha ferimentos de bala, e sim mostrava sinais de tortura. Um dia antes de sua morte, López ligou para a família para dizer que pediria demissão e que se não entrasse em contato no dia seguinte seria porque seus colegas o haviam matado", destaca a AI.

Os protestos na Nicarágua começaram em 18 de abril contra um projeto de reforma da Previdência, mas foram ampliados para grandes manifestações, reprimidas com violência pelo governo. A crise motivou pedidos de renúncia de Ortega.

Até 24 de agosto, pelo menos 322 pessoas morreram, em sua maioria em ações de agentes do Estado, e mais de 2.000 ficaram feridas, afirma a AI. Entre as vítimas fatais estavam 21 policiais.