Era uma manhã de sol e muito calor no Mediterrâneo, há quatro dias, quando a fragata Liberal, a F-43 da Marinha do Brasil, encontrou a pequena lancha superlotada por 31 refugiados sírios, muitos deles crianças e mulheres, carregando mochilas, levando poucos documentos.
O grupo pretendia chegar à Ilha de Chipre, fugindo da guerra civil que já provocou 350 mil mortes. A embarcação leve estava sem combustível, à deriva havia pouco menos de uma semana. Os estoques limitados de água e comida haviam se esgotado. Todos estavam debilitados e ao menos dois casos de desidratação associada a desnutrição foram considerados graves.
O comandante do navio brasileiro, capitão Cláudio Correa, ordenou que fosse prestado o atendimento médico de urgência. Também foram fornecidos suprimentos e remédios. O resgate dos refugiados foi feito por duas lanchas oceânicas da força naval do Líbano. A Liberal escoltou as embarcações.
Até esta segunda-feira (15/10) essas eram as únicas informações autorizadas pela chefia da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) a respeito do evento, o segundo do gênero em que a Marinha se envolve diretamente.
Há dois anos, em setembro de 2015, a corveta Barroso, a V-34, resgatou 220 refugiados - entre os quais, quatro bebês. Todos foram abrigados na corveta - o barco usado para tentar chegar à costa da Itália corria risco de naufragar.
A Barroso encontrou os refugiados antes de ser incorporada à missão da ONU. Bem diferente do que houve agora. A F-43 foi acionada pela Força Tarefa Marítima (FTM), comandada pelo contra-almirante Eduardo Vasquez, para localizar os refugiados empregando o radar de busca e os recursos do helicóptero de bordo, um Lynx de ataque, observação e transporte.
A lancha estava sem energia e sem capacidade de acionar os motores a cerca de 75 km do litoral de Beirute, a capital libanesa. Embora com excesso de passageiros, não havia ameaça iminente de perda da embarcação, relativamente moderna e equipada.
A Marinha do Brasil participa há sete anos da FTM-Unifil. A Liberal é a nau capitânia da força naval internacional composta por navios de Alemanha, Grécia, Indonésia, Bangladesh e Turquia. O navio com tripulação de 200 militares (times de operação da fragata, da ala aérea e de mergulhadores de combate) vai permanecer no Líbano por oito meses, cumprindo a missão de adestramento em operações navais, interdição marítima, repressão ao contrabando de armas e ao tráfico humano.
Para atuar na região, a F-43 é configurada em condição de combate. Conta com sistemas de detecção, acompanhamento, aquisição e ataque a alvos submarinos, de superfície e aéreos. Leva um sonar de casco, radares de busca, navegação, vigilância e de direção de tiro. Tem também um sistema de apoio à guerra eletrônica.
O conjunto de armas integra dois canhões, metralhadora pesada, mísseis antinavio de longo alcance (180 km) Exocet MM-40 modernizados e antiaéreos (25 km) Aspide. Pode lançar torpedos antissubmarino Mk-46 a partir do helicóptero Lynx. É a quarta vez, em seis anos, que o navio participa da Operação Líbano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.