Caracas, Venezuela - O governo venezuelano enfrentou nesta terça-feira cobranças da comunidade internacional para esclarecer a morte de um vereador da oposição que, segundo as autoridades, cometeu suicídio na prisão, embora seus companheiros aleguem que foi assassinado.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU pediu nesta terça uma "investigação transparente" sobre as circunstâncias da morte do vereador Fernando Albán.
"Fernando Albán se encontrava detido pelo Estado. O Estado tinha a obrigação de garantir sua segurança, sua integridade pessoal (...). Nós pedimos uma investigação transparente para esclarecer as circunstâncias de sua morte", já que existem "informações contraditórias sobre o ocorrido", declarou uma porta-voz do Alto Comissariado, Ravina Shamdasani, em coletiva de imprensa em Genebra.
A União Europeia também ressaltou nesta terça a necessidade de uma "investigação independente" para apurar as circunstâncias da morte do vereador.
"Esperamos uma investigação exaustiva e independente para esclarecer as circunstâncias da trágica morte do vereador Albán", afirmou o comunicado do escritório da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que também pediu que Caracas liberte "todos os presos políticos".
A Arquidiocese de Caracas, cujo trabalho social estava ligado ao vereador, levantou dúvidas sobre a versão do suicídio. "Até domingo, sabia-se que ele estava sereno e calmo, e até enviou diretrizes para sua equipe para que eles continuassem trabalhando para os pobres", declarou a arquidiocese, muito crítica do governo.
O advogado de Albán, Joel García, disse aos jornalistas que não se pode afirmar ou negar que foi um suicídio.
"Como vamos falar sobre suicídio se é uma pessoa que acabou de morrer? A primeira coisa que qualquer órgão policial deve dizer é que há uma investigação", enfatizou.
Segundo o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, Albán, detido por um suposto ataque com drones explosivos contra o presidente Nicolás Maduro, cometeu suicídio na segunda-feira na sede do serviço de inteligência.
[SAIBAMAIS]O partido de Albán, Primero Justicia, denunciou que se tratou de um assassinato.
Albán, vereador do município Libertador de Caracas, foi detido na última sexta-feira acusado de participar da explosão de dois drones perto do local em que Maduro fazia um discurso em 4 de agosto, durante um desfile militar na capital.
Saab explicou por telefone à rede de televisão estatal VTV que Albán "solicitou ir ao banheiro, e estando lá, se jogou pela janela do décimo andar".
O ministro do Interior e da Justiça, Néstor Reverol, afirmou que Fernando Albán se suicidou "no momento em que seria trasladado ao tribunal".
;Magnicídio frustrado;
Nicolás Maduro classificou os fatos de 4 de agosto de "magnicídio frustrado" e responsabilizou como autor intelectual o deputado Julio Borges, fundador do Primero Justicia e exilado na Colômbia.
"A crueldade da ditadura acabou com a vida de Fernando Albán", reagiu Borges no Twitter, lembrando que o vereador havia viajado a Nova York na semana passada para visitar seus filhos e o acompanhou às Nações Unidas.
"Sua morte não vai ficar impune", acrescentou o deputado, que Maduro acusa de fazer parte de uma trama para derrubá-lo com a ajuda de Estados Unidos e Colômbia.
O presidente do Comitê das Relações Exteriores do Senado americano, Bob Corker, em visita em Caracas, disse que a morte de Albán é "perturbadora".
"O governo tem a responsabilidade de garantir que todos entendam como isso aconteceu", escreveu no Twitter
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou a morte do opositor. "Responsabilidade direta de um regime torturador e homicida", escreveu no Twitter.
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles, membro do partido de Albán, afirmou que o ocorrido "é total responsabilidade do regime". "Ele NUNCA poderia ter atuado contra sua vida", ressaltou no Twitter.