Jornal Correio Braziliense

Mundo

Acusadora diz ter certeza que juiz indicado por Trump é agressor sexual

A professora Christine Blasey Ford declarou nesta quinta-feira (27) acreditar que seria morta por acidente durante a agressão sexual que sofreu há 36 anos por Kavanaugh

Washington, Estados Unidos - A professora universitária Christine Blasey Ford declarou nesta quinta-feira (27) acreditar que seria violentada, ou morta por acidente, durante a agressão sexual que supostamente sofreu há 36 anos por parte do juiz Brett Kavanaugh, indicado pelo presidente Donald Trump para ocupar a Suprema Corte dos Estados Unidos.

"Estou aqui hoje não porque eu gostaria de estar. Estou apavorada", desabafou Christine, de 51 anos, que testemunha sob juramento na Comissão de Justiça do Senado, em uma sala que estava completamente lotada.

A sessão foi aberta com uma apresentação do presidente da Comissão, o republicano Chuck Grassley.

"Estou aqui porque acredito que seja meu dever como cidadã dizer a vocês o que aconteceu comigo, quando Brett Kavanaugh e eu estávamos no Ensino Médio", declarou, com a voz embargada e sob forte emoção, tentando conter as lágrimas em vários momentos.

O senador Grassley iniciou a sessão com um pedido de desculpas a Christine e a Kavanaugh. "Tanto a dra. Ford quanto o juiz Kavanaugh passaram por duas semanas terríveis. Eles e suas famílias receberam ameaças vis", afirmou Grassley. "Então, eu quero pedir desculpas a vocês dois pelo jeito como têm sido tratados", completou.

De acordo com a Casa Branca, o presidente Trump acompanhava o testemunho a bordo do Air Force One.

Christine assegura que Kavanaugh tentou violentá-la em uma festa de estudantes, em uma casa no subúrbio de Maryland. O juiz, de 53 anos, nega as acusações.

Blasey Ford descreveu ter sido abordada por um Kavanaugh "visivelmente bêbado" e seu amigo Mark Judge, que a levou para um quarto e trancou a porta, antes que Kavanaugh tentasse tirar suas roupas.

"Brett e Mark vieram para o quarto e fecharam a porta", contou. "Eu fui empurrada para cama, e Brett ficou em cima de mim", completou.

"Achei que ele fosse me estuprar. Tentei gritar por ajuda", disse ela aos congressistas, garantindo ter totalmente certeza de que Kavanaugh foi o agressor.

"Quando tentei, Brett colocou a mão na minha boca para me impedir de gritar", completou. "Isso foi o que mais me apavorou e o que teve um impacto mais permanente na minha vida", admitiu.

"Era difícil respirar e achei que Brett fosse me matar por acidente", explicou.

100% de certeza
Ao ser questionada sobre como poderia ter tanta certeza de que o juiz foi o agressor, respondeu sem hesitar: "Do mesmo jeito que tenho certeza de que estou falando com o senhor agora. Apenas funções básicas de memória".

Christine afirmou ter certeza da identidade do agressor porque a "traumática experiência" foi alojada de modo "indelével" em seu cérebro.

"Estão indelevelmente no hipocampo a risada, as barulhentas risadas deles dois, se divertindo às minhas custas", relatou Blasey Ford, especialista em Psicologia, em um dos momentos cruciais da audiência.

"Os detalhes dessa noite, que são o que me trazem aqui, são coisas de que nunca vou me esquecer. Ficaram gravadas na minha memória e me atormentaram por momentos em minha vida adulta", disse.

"Ele começou a passar as mãos dele pelo meu corpo, se esfregando em mim", continuou. "Eu gritei, esperando que alguém no andar de baixo pudesse me ouvir", acrescentou.

"Brett me agarrou e tentou tirar minha roupa", continuou. "Ele estava com dificuldade porque estava muito embriagado".

Blasey Ford disse que tentou fugir, quando o juiz pulou na cama. A acadêmica rejeitou qualquer motivação política em sua denúncia. "Fui acusada de agir por motivações político-partidárias. Quem diz disso não me conhece", frisou. "Eu sou uma pessoa totalmente independente, não sou peão de ninguém", acrescentou.

[SAIBAMAIS]Do lado de fora do Capitólio, manifestantes anti e pró-Kavanaugh acompanham a sessão.

A atriz Alyssa Milano, uma das estrelas de Hollywood que denunciaram os abusos que deflagraram o movimento #MeToo, viajou para Washington para oferecer seu apoio a Blasey Ford.

"Quis vir para mostrar meu apoio à doutora Ford, para expressar minha solidariedade com outras mulheres, com outras sobreviventes que tiveram experiências parecidas. Acho que o mais bonito que surgiu dos últimos dois anos pe ter podido entender que nós, mulheres, estamos aqui umas para as outras", disse a atriz à AFP.

Há duas semanas, Kavanaugh parecia prestes a ganhar sua aprovação do Senado para entrar na Suprema Corte, uma jurisdição que trata de questões fundamentais da sociedade americana, como direito ao aborto, porte e posse de armas de fogo e direitos das minorias.

Para Trump, colocar um juiz conservador em um cargo vitalício na alta corte selaria seu objetivo de deixar em minoria os juízes progressistas, ou moderados, durante muitos anos.

Até agora, apesar das novas denúncias de supostos abusos cometidos por Kavanaugh, Trump manteve seu apoio ao juiz. Se Blasey Ford conseguisse convencer o presidente americano, ele disse que poderia renunciar a seu candidato e propor outra pessoa.

Entre as grandes expectativas da audiência de hoje estava ver pela primeira vez o rosto de Christine, de quem se conhecia apenas fotos antigas e uma imagem das redes sociais, na qual aparecia de óculos escuros.