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Mulheres lutam para romper o tabu de amamentar em público na Índia

Mudar a mentalidade das pessoas com relação a essa questão é um dos objetivos principais da Semana Mundial de Amamentação, iniciativa promovida pela Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

Noida, Índia - Ensaiando suas primeiras palavras, Avyaan abraça seu boneco. Esse bebê de nove meses estão no centro de uma campanha para a aceitação da amamentação em público, considerada um tabu em um país conservador como a Índia.

Em muitos países, amamentar em público não é visto com bons olhos. Mudar a mentalidade das pessoas com relação a essa questão é um dos objetivos principais da Semana Mundial de Amamentação, iniciativa promovida pela Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que começou em 1 de agosto. Na sociedade conservadora indiana, amamentar em público ainda é um tabu.

Na Índia, onde as mulheres devem ser prudentes com suas roupas, o ato de mostrar o seio em público é algum impensável, que pode provocar reações violentas e até agressões sexuais. Apesar disso, os pais do pequeno Avyaan, Neha e Animesh Rastogi, querem mudar essa realidade através de uma petição que está sendo examinada pela Alta Corte de Nova Délhi. "Estava em um voo para Bangalore e do meu lado só havia homens", diz Neha Rastogi, de 30 anos, em entrevista à AFP em sua casa em Noida, cidade da periferia da capital indiana. "Nessa época meu filho só mamava no peito e foi muito difícil alimenta-lo" no avião, lembra.

Por esse motivo, "pedimos ao governo que dedique espaços reservados nos aviões e em todos os locais públicos para que possamos amamentar em público, já que o seio é percebido como um órgão sexual", diz Neha.A iniciativa foi bem recebida e a Alta Corte pediu às autoridades municipais de Nova Délhi que respondam na próxima audência, prevista para 28 de agosto.

"Uma onda de insultos"

Criar espaços dedicados à amamentação é uma possibilidade. Outra seria que as mães indianas possam amamentar no lugar e no momento em que achem mais oportuno. Para conscientizar a sociedade, a atriz indiana Gilu Joseph fez fotos com um bebê ;que não era seu filho; amamentando, e a imagem foi publicada na capa de uma revista. Após a publicação da imagem, Gilu Joseph foi alvo de uma investigação judicial por nudez, obscenidade e ofensa à ordem moral.

Apesar da justiça não ter acatado as denúncias, a atriz sofreu uma onda de insultos. "Não me importo com o que os outros dizem. Essas fotografias fazem parte de uma campanha para promover a amamentação em público", disse Gilu em um entrevista à AFP. Roopam Gupta também sofreu as consequências ruins de amamentar em público sua filha de seis anos, em um taxi, quando voltava do trabalho. O motorista "tentou me esconder dentro do carro", diz. "Mas eu disse que era ele que deveria mudar a mentalidade, não eu".

A amamentação é uma questão especialmente importante em um país em desenvolvimento como a Índia, onde muitas famílias não podem comprar leite para seus bebês e muitas mulheres não podem contratar uma babá, e se vêem obrigadas a levar seus filhos para o trabalho.

Em um relatório publicado na última terça-feira, na véspera da Semana Mundial de Amamentação, a Unicef e a OMS lamentaram que três em cada cinco bebês no mundo não são amamentados por suas mães durante a primeira hora de nascimento, o que aumenta o risco de morte e doenças.