Genebra, Suíça - Após o mandato de Zeid Ra;ad Al Hussein, conhecido por suas duras críticas a vários líderes mundiais, a ONU poderia buscar agora uma figura de consenso para ocupar o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
[SAIBAMAIS]Al Hussein não hesitou em classificar de racista o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban; sugeriu que o presidente filipino, Rodrigo Duterte, necessitava de um "exame psiquiátrico" e acusou o presidente americano, Donald Trump, de levar a humanidade ao abismo.
"Acho que irritei todos os governos durante esses quatro anos", explicou recentemente Zeid, um ex-embaixador e membro da família real da Jordânia, em uma entrevista à BBC.
Em seu último discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em junho, Al Hussein reconheceu que "havia sido duro" com sua família e que seu cargo afetou sua relação com o governo de seu país.
À medida que se aproxima a data-limite para substituir Zeid, Nils Melzer, um dos candidatos ao posto pede que seu substituto mude de tom.
"O próximo alto comissário tem que entender que defender os direitos humanos não consiste em atacar os governos", escreveu Melzer, atual relator especial da ONU para a tortura, em uma carta na qual explica sua intenção de concorrer ao posto.
O próximo alto comissário deverá assumir o cargo no começo de setembro, mas se não for nomeado, a adjunta de Zeid ocupará o cargo.
"O próximo alto comissário deve ter a capacidade de construir consenso, respeitando as diferenças, dizer a verdade sem condenar", acrescenta Melzer, de nacionalidade suíça.
Perguntado pela AFP, Melzer reconhece que não está entre os favoritos, mas considera necessário um debate sobre o papel de um alto comissário, um posto criado há menos de 25 anos. "O alto comissário não pude ser um ativista", assegura.
Vários países, como China e Venezuela, têm criticado reiteradamente a vontade de Zeid de lançar investigações do Conselho de Direitos Humanos em países em crise ou em conflito, e apostam em uma "cooperação técnica" com a ONU.
- Estratégia -
Edward Mortimer, ex-diretor de comunicação da ONU, afirma em um artigo publicado pela Associação das Nações Unidas do Reino Unido (UNA-UK, que acompanha o processo de seleção), que ser alto comissário "não é um mar de rosas". Alguns acreditam que o método de Zeid de denunciar individualmente os responsáveis por abusos graves é a única estratégia viável.
"É disso que se trata", disse à AFP Louis Charbonneau, o diretor da seção sobre a ONU na organização Human Rights Watch. "Não se trata de pisar em ovos", acrescentou.
Às vezes, explicou Zeid à BBC, as críticas partem de dentro da ONU, onde alguns o consideravam muito "moralista" e pediam que ele adotasse um "outro vocabulário" para denunciar os abusos.
A irlandesa Mary Robinson, que exerceu o cargo entre 1997 e 2002, disse à UNA-UK que "se alguém se tornar popular fazendo este trabalho é porque não está fazendo um bom trabalho".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, ainda não anunciou sua decisão, apesar de a saída de Zeid ser oficial desde dezembro de 2017. A eleição deve ser aprovada pela Assembleia Geral da ONU.
Alguns ativistas temem que Guterres nomeie uma personalidade de consenso depois que Donald Trump reduziu a contribuição dos Estados Unidos para a ONU e após as críticas da Rússia e da China à instituição.
Entre os nomes cogitados aparecem o da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e o da ex-diretora-geral da Unesco, a búlgara Irina Bokova.