O Camboja votou neste domingo (29/7) em eleições legislativas denunciadas como uma "farsa" e destinadas a prolongar os 33 anos no poder do atual primeiro-ministro Hun Sen, após a dissolução do único partido de oposição com credibilidade.
Hun Sen, de 65 anos, no poder desde 1985, reprimiu toda a dissidência antes das eleições, esmagando a mídia independente, a sociedade civil e os opositores políticos.
"Recentemente, tomamos ações legais para eliminar os traidores que tentaram derrubar o governo", disse recentemente a uma multidão de simpatizantes do partido governista, que comemoravam a medida judicial contra a oposição.
Tanto Washington como Bruxelas retiraram seu apoio à organização dessas eleições, aludindo à sua falta de credibilidade, enquanto os defensores dos direitos humanos e a oposição as descreveram como um sério revés para o processo democrático.
Dezenove pequenos partidos, muitos dos quais novas formações acusadas de ajudar a legitimar a votação, competiram contra o Partido do Povo Cambojano (CPP) de Hun Sen na ausência da principal força de oposição, o Partido para o Resgate Nacional do Camboja (CNRP), dissolvido no final de 2017 por decisão judicial.
As assembleias de voto abriram às 07h00 (21h00 de sábado no horário de Brasília) e fecharam oito horas depois. Os primeiros resultados serão anunciados à noite.
Mas, com um resultado já conhecido de antemão, o foco se concentra na participação em uma votação considerada um plebiscito sobre a popularidade do primeiro-ministro, mas descrita como "farsa" pela oposição.
Um porta-voz do partido governamental, Sok Eysan, previu uma grande vitória, assegurando que as pessoas "votaram em massa".
Mais de oito milhões de eleitores foram registrados para essas eleições.
O Camboja já realizou seis eleições, inclusive o primeiro pleito sob a égide da ONU em 1993, depois que o país emergiu de várias décadas de guerra civil.
Hun Sen apresentou-se como o salvador da pátria após os estragos do regime do Khmer Vermelho, embora tenha sido membro deste grupo ultramaoísta (1975-1979), que matou um quarto da população do país.
Mas a indignação com a corrupção generalizada entre uma população jovem, com aspirações de modernidade e pouca memória dos horrores praticados pelo Khmer, colocou em risco a longevidade do CPP nas eleições anteriores.
Os votos dos jovens ajudaram a oposição a obter mais de 44% dos votos nas eleições de 2013 e uma porcentagem similar nas eleições locais do ano passado.
Diante deste novo cenário, a Suprema Corte dissolveu o partido opositor em novembro de 2017 e abriu o caminho para a clara vitória do PCC neste domingo.