Jornal Correio Braziliense

Mundo

ONG pede proteção para o único sobrevivente de tribo brasileira

Segundo a ONG ele vive na Terra Indígena Tanaru e supõe-se que tenha passado 22 anos percorrendo sozinho a floresta, depois que seu povo sucumbiu ante as incursões de fazendeiros e exploradores de madeira


São Paulo, Brasil - A organização de defesa dos direitos de povos indígenas Survival Internacional pediu nesta segunda-feira (23/7) a proteção de tribos isoladas no Brasil, depois da divulgação de imagens do que se acredita ser o único sobrevivente de um povo dizimado na Amazônia.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou na semana passada imagens de um homem cortando uma árvore com um machado no meio da floresta. O vídeo foi gravado em 2011, mas não tinha sido publicado. Devido a evidências encontradas este ano, acredita-se que o homem continue vivo.

Segundo essa entidade, ele vive na Terra Indígena Tanaru, em Rondônia, e supõe-se que tenha passado 22 anos percorrendo sozinho a floresta, depois que seu povo sucumbiu ante as incursões de fazendeiros e exploradores de madeira.

"Após o último ataque de fazendeiros ocorrido nos finais de 1995, o grupo que provavelmente já era pequeno (a partir de relatos, a equipe local acreditava serem seis pessoas) tornou-se uma pessoa só", precisou a Funai, subordinada ao Ministério da Justiça.

Segundo dados desta organização, há 107 registros de presença de grupos indígenas isolados no Brasil, um número que varia segundo os relatórios.

"É impossível saber como o único sobrevivente de ataques genocidas se sente ao ter assistido ao assassinato de sua comunidade", disse à AFP Fiona Watson, diretora de pesquisa e campanha da Survival Internacional.

O vídeo "prova que ele existe e é uma resposta para alguns políticos e pessoas do agronegócio que acusam a Funai de inventar indígenas não contactados", acrescentou.

Segundo a Funai, este homem vive da caça e de cultivos de mandioca, banana, milho e mamão. Houve tentativas de contato, mas quando estes não foram correspondidos, a equipe da Funai decidiu se limitar à observação e a deixar algumas ferramentas e sementes que o último expoente de sua tribo poderia utilizar para suas atividades cotidianas.

"A Funai sofreu grandes cortes de orçamento recentemente, e no início do ano fechou alguns postos de proteção em áreas onde vivem povos não contactados (...). Nunca estes postos foram mais vitais, em um momento em que cresce a pressão do agronegócio e da mineração", acrescentou Watson, que elogiou a política oficial de não forçar o contato com as tribos isoladas.

Mais de 800.000 indígenas de 305 etnias e 274 línguas vivem no Brasil, de acordo com dados oficiais.