O discurso do ex-presidente americano Barack Obama é o momento mais esperado das comemorações na África do Sul do centenário de nascimento de Nelson Mandela, símbolo da luta contra o apartheid.
[SAIBAMAIS]Mandela, que morreu em 2013, continua sendo uma referência mundial por sua longa trajetória e por sua mensagem de paz e reconciliação após ficar preso por 27 anos.
O centenário de seu nascimento será comemorado em 18 de julho em nível mundial. Este dia servirá para que as pessoas "passem à ação e se inspirem na mudança impulsionada por Mandela", segundo a Fundação Nelson Mandela.
Obama fará um discurso em Joanesburgo em 17 de julho. Segundo o entorno do ex-presidente dos Estados Unidos, será a sua intervenção pública mais importante após deixar a Casa Branca, no início de 2017.
"Tem a oportunidade de transmitir uma mensagem de tolerância, inclusão e democracia, ao mesmo tempo que o legado de Mandela serve para enfrentar desafios evidentes em todo o mundo", assegurou Benjamin Rhodes, conselheiro de Obama, em declarações ao New York Times.
O ex-presidente americano também presidirá em 18 de julho um encontro com 200 jovens dirigentes africanos, selecionados para participar de um programa de formação de cinco dias.
Legado ameaçado?
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, assegurou que comemorará o centenário do nascimento de Mandela dando a metade de seu salário para organizações beneficentes a fim de honrar "o grande sacrifício que (Mandela) fez e seu incansável compromisso para melhorar a vida dos mais fracos".
F.W. de Klerk, ex-presidente que compartilhou o Nobel da Paz com Mandela em 1993, explicou à AFP que este centenário é uma oportunidade para refletir sobre os problemas atuais da África do Sul.
"Estou convencido de que o presidente Mandela estaria profundamente preocupado, como eu estou, com a situação política atual", asseguro De Klerk.
"Sua visão reconciliadora atualmente é quase inexistente no ANC", partido do governo, acrescentou.
De Klerk, que lembrou de "sua profunda amizade" com Mandela, explicou que sua esperança reside nas boas relações inter-raciais das pessoas.
Segundo um relatório do Banco Mundial deste ano, a África do Sul é o país com um dos níveis de desigualdade mais elevados no mundo. Muitos sul-africanos acreditam que o projeto impulsionado por Mandela se viu frustrado por seus sucessores.
Outras vozes acusam o próprio Mandela de "trair seus princípios" ao permitir que a minoria branca mantivesse o seu controle sobre a economia.
"Lutou para nos deixar livres, mas não o somos a nível econômico", afirma Soweto, um jovem de 19 anos, morador de Mtate Phakela, entrevistado pela AFP.
Atos ao longo do ano
Muitos atos acontecerão ao longo deste ano para comemorar o nascimento de Mandela. Entre eles, uma caminhada em Joanesburgo liderada por sua ex-esposa, Graca Machel; a publicação das cartas que o líder sul-africano escreveu na prisão; e a impressão de uma nota de banco em sua memória.
Para homenagear a sua figura, grupos de alpinistas escalarão o Kilimanjaro e um grupo de motociclistas se comprometeu a fazer uma viagem beneficente e arrecadar fundos para construir 100 bibliotecas em escolas. Também organizarão exposições, festivais de música e eventos esportivos.
O centenário de Mandela terminará com um show em Joanesburgo, onde é aguardada a presença de cantores afro-americanos famosos, como Beyoncé, Jay-Z e Pharrell Williams.
Mandela ficou preso entre 1962 e 1990 pelo regime do apartheid. Depois de sair da prisão, liderou o Congresso Nacional Africano e com este partido se impôs nas eleições de 1994, as primeiras nas quais o sufrágio universal foi aplicado e cidadãos negros e brancos votaram.