Os bombardeios contra os setores ainda nas mãos dos rebeldes no sul da Síria foram retomados nesta quarta-feira (4/7), após o anúncio por parte desses grupos de que as negociações com a Rússia, aliada de Damasco, haviam fracassado.
[SAIBAMAIS]Segundo uma fonte da oposição próxima às negociações, a delegação russa havia advertido aos rebeldes que se agarram à província de Daraa, no sul do país, que o dia de negociação era o "último" e que exigiam uma "resposta final".
A operação militar lançada em 19 de junho pelo regime da província de Daraa permitiu progredirem consideravelmente nesta região, com bombardeios mortais ou mediante acordos de "reconciliação" patrocinados por Moscou.
Com essa estratégia, o regime de Bashar al-Assad recuperou cerca de 30 localidades rebeldes na província. O destino de outros setores rebeldes no sul permanece na incerteza.
Nesta quarta-feira, 4/7, após uma nova rodada de conversas, os rebeldes anunciaram "o fracasso das negociações com inimigo russo".
"Fracasso das conversas com o inimigo russo", anunciou em sua conta no Twitter uma célula que reúne as diferentes facções do sul. "As negociações não alcançaram nenhum resultado (...) Nenhuma nova data foi fixada" para a retomada do diálogo, indicou mais cedo à AFP o porta-voz dessa célula, Ibrahim al Jabawi.
Uma fonte da oposição próxima às conversas assinalou que os rebeldes estavam dispostos a abandonar sua artilharia pesada (uma das exigências russas), mas de maneira progressiva.
A consequência imediata do fracasso foram os ataques aéreos contra quatro localidade em Daraa, tanto por parte de aviões russos como do regime, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Solução política
Na terça-feira, 3/7, os beligerantes negociaram até meia-noite, mas os russos teriam rechaçado as demandas da delegação rebelde, limitando-se aos próprios termos.
Em particular, rechaçavam "o traslado de combatentes e civis" para outras regiões insurgentes da Síria, indicou a fonte, diferentemente do que havia acontecido após a reconquista de outros redutos rebeldes.
A Rússia exigia o abandono por parte dos rebeldes das armas pesadas e medianas, o retorno do Exército (sírio) aos seus quartéis, das instituições do governo, e a mobilização da polícia do regime na região.
Segundo os representantes de Moscou, o Exército sírio deveria recuperar as suas posições anteriores a 2011, quando começou a guerra, e a polícia militar russa apoiaria no local.
Na véspera, os rebeldes propuseram durante as 10 horas de tensas conversas um cessar-fogo global.
Também exigiam a retirada das forças do regime das regiões que conquistaram em seu último cerco. E, finalmente, reclamavam que qualquer solução garantisse a partida dos combatentes que desejassem ir, junto com suas famílias, a outros territórios em mãos insurgentes.
Civis exilados
Ante a ofensiva do regime no sul, a comunidade internacional mais uma vez se revela impotente.
Desde 2011, todas as iniciativas internacionais para encontrar uma solução ao conflito, que deixou mais de 350 mil mortos, fracassaram.
O Conselho de Segurança da ONU terá na quinta-feira, 5/7, de manhã uma reunião de urgência a portas fechadas para discutir a situação na região, segundo fontes diplomáticas.
Nesta área existem entre 270 mil e 330 mil deslocados, segundo a ONU, alguns encontram abrigo perto da fronteira com Jordânia e Israel, onde vivem em condições muito precárias.
Mas nenhum desses países quer acolhê-los. Diante do risco de crise humanitária, a ONG Human Rights Watch (HRW) pediu nesta quarta-feira que ambos abram suas fronteiras.
Na província vizinha de Quneitra, deslocados e habitantes locais se reuniram em território rebelde diante dos escritórios da ONU protestando pela ineficiência da comunidade internacional.
"Os civis exilados que vivem debaixo de toldos ou ao ar livre organizaram essa manifestação (...) para demandar à ONU e ao mundo garantias internacionais para proteger suas vidas", afirmou um responsável rebelde, Ali Salhadi.