No centro dessa queda de braço: o fechamento das fronteiras a qualquer imigrante previamente registrado em um outro país europeu, defendido pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, líder dos conservadores bávaros da CSU.
A medida foi rejeitada pela chanceler, que teme um efeito dominó na Europa e o fim da livre-circulação.
A Alemanha esperava ter um desfecho desse duelo no domingo. Horas após uma reunião da cúpula da CSU, porém, Seehofer anunciou que renunciaria ao cargo e à presidência de seu partido, até suspender sua decisão, finalmente, para participar de uma nova rodada de negociações com Merkel.
"Eu disse que colocaria os dois cargos à disposição e que executaria essa decisão nos próximos três dias", declarou ele à noite, enquanto o clima de incerteza permanece, em meio a esse conflito que entra em sua quarta semana.
As negociações entre a CSU e o partido de centro-direita CDU da chanceler, na presença de Merkel e de Seehofer, devem começar às 15h GMT (14h, horário de Brasília), em Berlim.
- ;Delírio do ego; -
A frágil coalizão formada a duras penas em março, reunindo a direita bávara, os democrata-cristãos da CDU e os socialdemocratas, está em suspenso. Assim como a aliança CDU-CSU formada em 1949.
Nesta segunda, a dirigente socialdemocrata Andrea Nahles acusou o campo conservador, em geral, "de irresponsabilidade", e a CSU, em particular, de "delírio de ego".
A chanceler considera ter respondido às demandas de seu ministro. Primeiramente, porque endureceu de forma considerável sua linha migratória em dez anos e, em segundo, porque negociou na cúpula europeia da semana passada medidas "mais do que equivalentes" - segundo ela - às desejadas por Seehofer.
Falando para seus correligionários no domingo, o ministro surpreendeu ao rejeitar a oferta de Merkel e anunciar sua renúncia, pondo seu futuro político e o do governo na berlinda.
Diante de uma crise, cujo fim é continuamente adiado, o site da revista Der Spiegel afirma: "ele se demite, não se demite... A disputa entre a chanceler Merkel e seu ministro do Interior se torna cada vez mais absurda".
O que todas as pesquisas mostram é que os alemães não aprovam a via do conflito escolhida pelo ministro. Segundo uma enquete do instituto Frosa para a RTL publicada hoje, 67% dos entrevistados consideram "irresponsável" a posição dos conservadores bávaros.
Merkel hesita
Agora, mesmo os falcões bávaros parecem querer evitar uma escalada.
"Ninguém quer pôr o governo em xeque", declarou o chefe do Executivo da Bavária, Markus S;der, admitindo que, "sinceramente, Horst nos surpreendeu" com sua ameaça de demissão.
Na verdade, o conflito de Horst com Merkel tem sido quase permanente desde sua polêmica decisão de 2015 de abrir a Alemanha a centenas de milhares de candidatos ao asilo.
Há três anos, ele não se cansa de denunciar essa escolha, e sua ofensiva parece mirar na própria chanceler, vista como um obstáculo pelos conservadores mais duros.
Qualquer que seja o desfecho, Angela Merkel sai no mínimo enfraquecida. No pior dos cenários, poderá se encontrar perto da saída, menos de um ano depois de sua vitória nas legislativas.
Após quase 13 anos no poder, a chanceler é abertamente contestada em seu governo e em seu grupo político, combatida na Europa, em especial pelos vizinhos do leste e pela Áustria, e em conflito com o presidente americano, Donald Trump, em uma série de temas.