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Cresce nos EUA movimento pelo fim do escritório de imigração

Na semana passada, o presidente Donald Trump assinou uma ordem que acabou com a separação das famílias, mas 2.000 crianças ainda não foram reunidas com seus pais


Miami, Estados Unidos - A separação de mais de 2.000 crianças de seus pais ou responsáveis ao entrar nos Estados Unidos pela fronteira com o México provocou furiosas críticas nacionais e internacionais, entre as quais ganha impulso um movimento que pede o fim do escritório de imigração.

[SAIBAMAIS]Com cartazes, gritos e promessas, políticos, ativistas e manifestantes pró-imigrantes estão exigindo que o Escritório de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE, em inglês) seja "abolido" devido às práticas supostamente brutais de que foi acusado nas últimas semanas.

"Continuaremos o nosso chamado ao Congresso a fim de que pare de financiar as forças de deportação", disse à AFP nesta sexta-feira (29/6) María Bilbao, organizadora na Flórida da ONG de defesa dos imigrantes "United We Dream", referindo-se ao ICE.

Na semana passada, o presidente assinou uma ordem que acabou com a separação das famílias, mas 2.000 crianças ainda não foram reunidas com seus pais em um processo acusado de caótico por advogados de imigração.

Neste agitado contexto político, uma das primeiras vozes a favor de abolir o ICE foi a da atriz e candidata a governadora de Nova York, Cynthia Nixon, que viveu Miranda na série "Sex And The City".

"Acho que precisamos abolir o ICE. Parece muito claro", disse a candidata democrata ao canal ABC na semana passada. O escritório de migração "se afastou muito dos interesses do povo americano e dos interesses da humanidade".

Esse pedido tem eco no Congresso, embora ainda de maneira marginal, e começa a ser evocado com frequência por organizações de direitos humanos, que concordam em argumentar que o escritório de migração é relativamente novo.

O ICE foi criado em 2003 para "proteger a segurança nacional e fortalecer a segurança pública" em resposta aos ataques terroristas em Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001, de acordo com seu site.

Hemanth Gundavaram, codiretor da Clínica de Justiça para Imigrantes na Universidade Northeastern de Boston, considerou que o ICE se tornou uma ferramenta para Trump implementar sua política de imigração "racista e xenófoba".

"Nosso sistema de imigração não deveria existir para se concentrar apenas na segurança nacional e no terrorismo", disse ao jornal USA Today.

Mas a aprovação no Congresso de uma medida tão drástica "é extremamente improvável", comentou com a Stephen Yale-Loehr, professor de Direito Migratório da Universidade de Cornell, em Nova York.

"Além disso, mesmo que os democratas assumam o controle do Congresso em novembro, a possibilidade de abolir o ICE varia de baixa a nula", acrescentou. "Todas as agências precisam de um braço que aplique a lei, e com a imigração não é exceção: se o Congresso eliminar o ICE, teria que criar outra entidade para impor as leis de imigração".

Porta-vozes do escritório do ICE não responderam à AFP.