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Crianças choram e chamam por suas mães na fronteira dos EUA

Após as muitas críticas nacionais e internacionais, Trump indicou nesta quarta-feira (20/6) que assinará um decreto para acabar com a separação das famílias


As crianças separadas de seus pais na fronteira entre o México e os Estados Unidos são retidas por agentes em espaços cercados que parecem jaulas, onde os menores choram e gritam chamando por suas mães, conta uma pediatra que visitou vários centros de detenção temporária no Texas.

[SAIBAMAIS]"Do lado de fora, podíamos ouvir as vozes das crianças que pareciam estar brincando ou rindo, mas quando abrimos a porta, vimos como 20 ou 30 crianças de cerca de 10 anos, trancadas em um destes recintos, choravam, gritavam e chamavam por suas mães", relatou à AFP a pediatra Marsha Griffin.

As mães foram confinadas em outra jaula a cerca de 15 metros de distância. "Algumas podiam ver seus filhos, mas não podiam se aproximar, outras não podiam vê-los. E as crianças esticavam as mãos pela cerca de metal, chorando e tentando alcançar suas mães".

"Era horrível", disse Griffin, que há 10 anos acompanha a situação das crianças retidas na fronteira entre o Texas e o estado mexicano de Chihuahua.

A separação familiar não é nova, mas era aplicada a critério dos agentes de fronteira até 5 de maio, quando o presidente Donald Trump implementou uma política de "tolerância zero". Desde então, mais de 2.300 crianças foram separadas de seus pais.

Após as muitas críticas nacionais e internacionais, Trump indicou nesta quarta-feira (20/6) que assinará um decreto para acabar com a separação das famílias.

Os imigrantes que entram ilegalmente nos Estados Unidos ao longo da fronteira com o México, bem como aqueles que o fazem em busca de refúgio, são enviados para um "centro de detenção" da patrulha de fronteira.

Lá, são mantidos em espaços fechados por cercas de metal, divididos por idade e sexo. Os irmãos também podem ser separados. Isso pode durar 72 horas, até que o caso seja resolvido, ou as crianças sejam enviadas para abrigos do Departamento de Saúde.

À medida que esses centros de detenção temporária começam a lotar com a chegada contínua de crianças separadas de seus pais, novas soluções governamentais surgem.

No deserto de Chihuahua, tudo o que se vê ao redor é plano, marrom, com alguns arbustos e um horizonte líquido devido ao calor. Ali, no meio do nada, as autoridades instalaram um acampamento onde as crianças imigrantes são classificadas como "desacompanhadas".

As crianças separadas são frequentemente reclassificadas como "desacompanhadas", disseram advogados à AFP.

Neste novo acampamento, atrás de uma série de cercas, há pelo menos 18 tendas brancas. Por enquanto, abriga meninos de 16 e 17 anos, tem 360 leitos e deve chegar a 4.000. Foi instalado na semana passada em uma base da patrulha de fronteira em El Tornillo, uma cidade árida perto de El Paso, na fronteira do Texas com o México.

Uma delegação de prefeitos dos Estados Unidos visitará o local na quinta-feira.

Estresse tóxico

Os pediatras alertam para o "estresse tóxico" sofrido pelas crianças detidas nesses centros, que abrigam tanto os menores que migraram sozinhos quanto os que foram separados de seus pais, mesmo que sejam bebês.

"Separar as crianças dos pais contradiz tudo o que acreditamos como pediatras", disse a presidente da Associação Americana de Pediatria (AAP), Colleen Kraft.

A AAP explicou em um comunicado que "o estresse tóxico, causado pela exposição prolongada ao estresse intenso, tem efeitos adversos na saúde em curto e longo prazo (...) que podem contribuir para condições crônicas como depressão, estresse pós-traumático e doenças cardiovasculares".

"Essas crianças passam por um processo de estresse tóxico e trauma porque não sabem o que vai acontecer com elas", afirmou Griffin.

É por isso que os pediatras pedem que esses centros contratem especialistas treinados em atendimento infantil, para confortá-los e explicar o que acontece.

"Mas quando dizemos isso aos agentes, eles ficam aborrecidos, dizem que esse não é o trabalho deles, que são responsáveis %u200B%u200Bpela aplicação da lei e que não têm tempo para isso", ressalta Griffin.

Como pediatras, "nós sabemos o dano severo que isso está causando a centenas de crianças. Acredito que sejamos melhores que isso. Como um país, nós certamente acreditamos que todas as crianças são valiosas".