O papa Francisco pediu perdão aos fiéis da cidade chilena de Osorno, em uma tentativa de reconciliar a comunidade profundamente dividida pela designação do bispo Juan Barros - acusado de encobrir atos de pedofilia -, em mensagem lida por seus enviados neste domingo (17/6).
O bispo Charles Scicluna e o monsenhor Jordi Bertomeu foram pela segunda vez a esta cidade este ano, a mais afetada pelo escândalo protagonizado por seu ex-bispo Barros, acusado de acobertar os abusos sexuais cometidos pelo influente sacerdote chileno Fernando Karadima. O caso provocou uma grave crise na Igreja chilena, à qual o pontífice tenta pôr fim.
"O papa Francisco me encarregou de pedir perdão a cada um dos fiéis da diocese de Osorno e a todos os habitantes deste território por terem sido profundamente feridos e ofendidos", disse Scicluna, de joelhos junto a Bertomeu, durante uma missa neste domingo na Catedral San Mateo de Osorno, 930 km ao sul de Santiago.
A chegada de Barros a Osorno em março de 2015 gerou uma profunda divisão entre fiéis e membros do clero que o apoiavam e outros que rejeitavam sua designação, após as acusações de que acobertou os abusos cometidos por Karadima em 1980 e 1990. O sacerdote havia sido suspenso para o resto da vida pelo Vaticano em 2011, devido às denúncias.
A catedral foi abarrotada por dezenas de fiéis que aplaudiram as palavras de Scicluna e viveram momentos de emoção durante esta missa, o ponto alto da visita a esta cidade, mas que para os laicos de Osorno não é suficiente para fechar as feridas que dividiram sua comunidade.
"Hoje decidimos dar um passo, entrar no nosso templo e participar da santa missa no dia do Senhor, deixando a clareza absoluta de que esta não é uma missa de reparação, nem de reconciliação", indicou um comunicado dos laicos, lido por Mario Vargas, um de seus representantes, minutos antes do início da cerimônia.
Após a missa, os laicos levantaram cartazes com frases como "A paz é fruto da verdade e da justiça" e "Sacerdote, rompa seu silêncio".
Todos os bispos chilenos, incluindo Barros, renunciaram durante reunião no Vaticano com o papa em maio, em meio a duras críticas do pontífice pelo tratamento que o clero do país deu às dezenas de denúncias sobre pedofilia que afetaram a Igreja chilena.
Francisco, que defendeu Barros em sua primeira visita ao Chile em janeiro, decidiu aceitar sua renúncia na segunda-feira passada, assim como a de outros dois bispos chilenos.
"Hoje vemos com muita clareza que há tantas formas de abuso que não podem voltar a acontecer, que há procedimentos que não se podem repetir, que há formas de fazer igreja que devem mudar", disse durante a missa o monsenhor Jorge Concha, que substitui Barros interinamente.
Os enviados do papa viajaram para o Chile pela primeira vez em fevereiro para investigar as denúncias sobre abusos.