Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (14/6) que suas principais manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul estão "suspensas indefinidamente", apesar de continuarem com as sanções impostas à Coreia do Norte para que renuncie de forma permanente ao seu arsenal nuclear.
Dois dias depois do surpreendente pedido do presidente Donald Trump de deter os exercícios militares "provocadores" após seu histórico encontro com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, um funcionário americano de alto escalão disse à AFP que "as principais manobras militares" ficam suspensas "indefinidamente na península coreana".
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, se reuniu em Seul com seus aliados sul-coreanos e japoneses antes de ser recebido em Pequim pelo presidente chinês, Xi Jinping, que saudou a "bem-sucedida cúpula".
Em Seul, Pompeo reafirmou que o objetivo de Washington continua sendo a "desnuclearização completa, verificável e irreversível da Coreia do Norte".
O texto assinado na terça-feira, 12/6, em Singapura pelos dois líderes tem sido criticado por muitos especialistas, já que o herdeiro da dinastia Kim somente se comprometeu a uma "desnuclearização completa da península coreana".
Esta frase vaga, sujeita a diferentes interpretações, retoma uma promessa já feita e nunca cumprida.
"Achamos que Kim Jong Un entende a urgência do cronograma para realizar esta desnuclearização" e "que devemos fazê-la rapidamente", disse Pompeo. Segundo ele, os Estados Unidos têm "a esperança" de que "o essencial do desarmamento norte-coreano" ocorra "nos próximos dois anos e meio", ao término do mandato do presidente republicano.
"No passado, a pressão econômica e financeira se atenuou antes de uma desnuclearização completa. Mas isso não acontecerá desta vez, o presidente Trump disse claramente durante sua reunião com Kim Jong Un", esclareceu Pompeo. "A suspensão das sanções não pode ser realizada até que haja evidências de que a Coreia do Norte foi completamente desnuclearizada".
Russos e chineses sugeriram que a ONU considere aliviar as sanções se Pyongyang cumprir com suas obrigações, enquanto Pompeo assegurou que a China, por onde passa 90% do comércio da Coreia do Norte, "reafirmou seu compromisso com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU".
O presidente russo, Vladimir Putin, se dirigiu a um funcionário norte-coreano de alto escalão a fim de estender um convite a Kim Jong Un para que visita a Rússia, enquanto elogiava os resultados da cúpula.
Foi, "sem dúvidas, o primeiro passo para um acordo de maior alcance", disse Putin.
Mudanças drásticas
"Continua havendo o risco de não alcançá-la (a desnuclearização), mas acredito realmente que o mundo pôs as condições certas", disse Pompeo depois de uma reunião em Pequim com seu homólogo chinês, Wang Yi.
Também confirmou que o fim dos exercícios militares conjuntos entre Washington e Seul está condicionado à evolução das negociações "produtivas" e de "boa fé" com os norte-coreanos.
O próximo exercício conjunto, chamado Ulchi Freedom Guardian, deveria ser realizado no fim de agosto, ou no início de setembro, como a cada ano.
Há algum tempo Pyongyang pede o fim desses exercícios, que considera uma repetição da invasão geral de seu território e aos quais respondeu conduzindo suas próprias operações militares.
O próximo embaixador dos Estados Unidos em Seul, que até o mês passado comandou as forças americanas no Pacífico, aprovou a decisão de suspender as manobras, considerando que "a situação mudou drasticamente" com a reunião entre Trump e Kim.
"Deveríamos fazer um descanso dos exercícios (...) para ver se Kim Jong Un fala sério sobre a sua parte nas negociações", disse o ex-almirante Harry Harris a um comitê do Congresso.
A chanceler sul-coreana, Kang Kyung-wha, se manteve afastada do tema, que aparece como uma importante concessão americana a Kim, e apenas disse que sua implementação irá requerer uma coordenação entre autoridades militares dos dois aliados.
Embora tenha celebrado o sucesso da cúpula, segundo Seul um "ponto de inflexão" para alcançar a paz, a chanceler reafirmou que as negociações de acompanhamento com Pyongyang serão cruciais para conseguir um "progresso substancial".
A ideia foi retomada pelo chefe da diplomacia japonesa, Taro Kono.
"Tivemos uma discussão franca sobre como pedir à Coreia do Norte para tomar medidas concretas", disse, em alusão à falta de detalhes e de um calendário na declaração de Singapura.
"Ainda não foram dadas garantias de segurança", destacou.
Dos exercícios militares conjuntos, dos quais o Japão não participa diretamente, destacou seu poder de "dissuasão" ao ter "um papel crucial para a segurança no nordeste da Ásia".