Entre Donald Trump descrevendo-o, nesta terça-feira (12/6), como um homem que quer "fazer o que é justo" e conterrâneos gritando "nós amamos você", Kim Jong-un multiplicou as tentativas incomuns de parecer simpático, em especial, com uma sorridente selfie com o chefe da diplomacia de Cingapura.
"Alguns dizem que Kim é ;encantador;, ou ;mais simpático do que se esperava;, mas não deveriam se deixar enganar pelo sorriso de Kim nesse show político", reagiu hoje Choi Jung-hun, um desertor norte-coreano que vive em Seul.
Ele pede à comunidade internacional para não esconder "o lado sombrio por trás desse reality show diplomático".
"Eu tinha realmente a esperança de que Trump abordasse a questão dos direitos humanos durante seu encontro com Kim", lamentou, evocando o destino dos "pobres norte-coreanos que apodrecem na prisão".
Donald Trump garantiu ter falado de direitos humanos com Kim Jong-un, mas ignorou a pergunta de um jornalista sobre o destino de Otto Wambier, um estudante americano morto depois de passar mais de um ano preso na Coreia do Norte.
A dinastia Kim dirige a Coreia do Norte com mão de ferro há três gerações.
Antes mesmo da cúpula de terça, mais de 300 organizações de defesa dos direitos humanos, entre elas a Human Rights Watch, fizeram um apelo a Pyongyang para que avance nesta área.
Homicídios, torturas, sequestros
Em um relatório anual sobre os direitos humanos no mundo para 2017, o Departamento de Estado americano acusou a Coreia do Norte, em abril, de cometer uma série de violações aprovadas pelo governo: de homicídios extrajudiciais a atos de tortura, passando pela repressão dos dissidentes e pelos sequestros no exterior.
Kim Jong-un é acusado de estar por trás da execução do próprio tio, Jang Song-thaek, em 2012, por "traição", ou ainda do assassinato de seu meio-irmão, Kim Jong-nam, em um aeroporto da Malásia, em 2017.
"Kim Jong-un está tentando ganhar uma estatura internacional de homem de Estado, mas seus esforços serão em vão, se continuar a presidir um país que continua a ser a maior prisão a céu aberto do mundo", reagiu o diretor da Human Rights Watch na Ásia, Brad Adams.
A HRW lembra que algumas sanções impostas a Pyongyang são ligadas a seus abusos dos direitos humanos, e não apenas a seu programa nuclear.
"Será muito decepcionante se a situação catastrófica dos direitos humanos na Coreia do Norte for completamente omitida em pleno degelo das relações diplomáticas", afirmou a Anistia Internacional, que fala da "quase total negação dos direitos humanos" na Coreia do Norte.