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Papa pede diálogo na Nicarágua depois de novas mortes em protestos

Pontífice frisou em discurso que a Igreja preza pela liberdade e, sobretudo, pelas vida

Cidade do Vaticano, Santa Sé - O papa Francisco pediu diálogo na Nicarágua depois que novos confrontos entre manifestantes e forças de ordem deixaram mais seis mortos nas últimas 24 horas, em uma série de protestos iniciada em 18 de abril.

"Eu me uno a meus irmãos bispos da Nicarágua e a sua dor pelas violências cometidas por grupos armados", afirmou o Papa na oração do Angelus na praça de São Pedro, no Vaticano.

"A Igreja continua sendo favorável ao diálogo, mas para isso pede o compromisso efetivo de respeitar a liberdade e, antes que mais nada, a vida", afirmou o sumo pontífice.

"Rezo para que cessem todas as violências, para que se reúnam novamente as condições para o diálogo", disse ainda.

Neste domingo, a Igreja católica perdeu seu primeiro primeiro cardeal latino-americano, Miguel Obando y Bravo, 92 anos, influente líder religioso nicaraguense e mediador de numerosos conflitos ao longo da história do país.

Nas últimas horas, manifestantes enfrentaram com morteiros de fabricação caseira as forças antidistúrbios, em um novo episódio de protestos contra o governo, com saques e violências que deixaram mais seis mortos, incluindo um cidadão americano.

A cidade de Masaya, antigo reduto sandinista que se rebelou contra o presidente Daniel Ortega, se transformou em um campo de batalha, onde centenas de manifestantes levantaram barricadas e enfrentaram com armas caseiras os policiais e outros grupos de choque do governo, segundo a equipe de reportagem da AFP.

Cinco pessoas morreram em Masaya, incluindo um adolescented e 15 anos, segundo a ONG Associação Nicaragüense de Proteção aos Direitos Humanos (ANPDH).

"O derramento de sangue em Masaya ocasionou um dia de luto e dor para os cidadãos que queriam exercer seu direito de protestar", afirmou o presidente da ANPDH, Álvaro Leiva.

Entre os mortos, está o americano Sixto Henry Vieda, de 48 anos, que foi assassinado em Manágua, informou a ANPDH.

Os manifestantes e vizinhos da região denunciaram a presença de vários franco-atiradores na sede da polícia de Masaya, no centro da cidade.

"Estão atacando o povo. Inclusive meteram uma bala no peito de um vizinho meu. Foi um franco-atirador", denunciou Jonathan José.

Com 100.000 habitantes, Masaya exige a renúncia do presidente Ortega, dentro dos protestos antigovernamentais que iniciaram em 18 de abril para denunciar uma reforma do sistema de previdência, deixando mais de cem mortos.

Além dos morteiros artesanais, disparos e gás lacrimogêneo, Masaya também foi cenário de incêndios e saques.

A polícia, por sua vez, acusou grupo de deliquentes como responsáveis pelos "atos terroristas" e informou que onze pessoas foram presas, segundo a imprensa local.

Também na véspera, a oposição nicaraguente questionou o anúncio da OEA de trabalhar em uma reforma ao sistema eleitoral que daria um "respiro" ao governo Ortega.

"A esta altura a proposta da OEA resulta insuficiente, somente lhe daria um respiro" ao governo enquanto continua reprimindo e criando "o caos" no país, advertiu o ex-deputado opositor, advogado e acadêmico universitário Eliseo Núñez à AFP.

"A exigência dos cidadãos que estão nas ruas é sair imediatamente do desgoverno de Ortega", disse por sua vez a dirigente opositora da sociedade civil, Azhalea Solís.

A secretária-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), liderada por Luis Almagro, informou na sexta-feira que chegou a um acordo com o governo da Nicarágua para trabalhar nos próximos seis meses em uma reforma ao questionado sistema eleitoral, como saída para crise vivida no país centro-americano.

Uma missão técnica da OEA deve chegar neste fim de semana à Nicarágua para definir um plano de trabalho com o governo