A decisão dos Estados Unidos de transferir sua embaixada para Jerusalém, que será inaugurada na segunda-feira (14/5), é um reconhecimento de fato da cidade como capital de Israel e um desafio para os palestinos e o restante do mundo em um contexto de tensões na região.
O presidente americano, Donald Trump, cumprirá assim a promessa que fez em dezembro, ao romper com décadas de consenso diplomático, no que foi muito criticado.
A abertura, prevista para a segunda-feira, ocorre em um contexto especialmente tenso, após semanas de enfrentamentos na Faixa de Gaza entre palestinos e israelenses, que deixaram vários mortos.
Esta semana, Trump anunciou, ainda, que os Estados Unidos vão se retirar do acordo nuclear com o Irã, uma decisão que gera mais incertezas no Oriente Médio, onde a guerra na Síria também implica várias potências regionais.
Neste sentido, Israel lançou na quinta-feira uma grande ofensiva contra alvos iranianos na Síria, replicando disparos de foguetes que atingiram a parte do Golã, ocupada por Israel.
Cerca de 800 pessoas estão convidadas à cerimônia no prédio que até agora sedia o consulado americano em Jerusalém.
Embora Donald Trump não esteja presente, espera-se uma importante delegação de Washington, liderada pelo vice-secretário de Estado, John Sullivan, a filha de Trump, Ivanka, seu marido e assessor do presidente, Jared Kushner, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.
A transferência da embaixada foi qualificada de "histórica" pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que incentiva outros países a fazer o mesmo.
"A decisão ousada do presidente Trump empurrou outros países, agora já são alguns tantos, que também têm previsto deslocar sua embaixada para Jerusalém", disse Netanyahu ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, quando visitou Tel Aviv no mês passado.
O encarregado palestino, Nabil Shaath, assegurou na quarta-feira que Trump "apoia a expulsão do nosso povo de Jerusalém e está dando a oportunidade a Israel de violar todas as leis internacionais".
Confrontos em Gaza
A data da inauguração, 14 de maio, também é simbólica, porque é o dia em que se comemoram os 70 anos da criação do Estado de Israel.
Um dia depois, em 15 de maio, os palestinos relembram a "Nakba" ("Catástrofe"), o êxodo de mais de 700.000 palestinos que fugiram de suas casas em 1948 como consequência da criação de Israel.
Os palestinos já anunciaram protestos tanto em 14 quanto em 15 de maio.
Desde 30 de março, pelo menos 52 palestinos morreram pelas mãos das forças israelenses em confrontos na fronteira de Gaza.
Acusado de fazer uso excessivo da força, Israel assegura que só atira caso necessário para evitar os ataques à barreira fronteiriça e acusa o movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, de incentivar os protestos.
Israel ocupou a Cisjordânia e Jerusalém oriental em 1967 na Guerra dos Seis Dias. Mais tarde, anexou Jerusalém oriental, embora não tenha obtido o reconhecimento internacional.
Israel considera toda a cidade sua capital, enquanto os palestinos querem que Jerusalém oriental seja a capital de seu futuro Estado.
Durante décadas, houve um consenso diplomático para que o estatuto de Jerusalém fosse uma decisão negociada entre as duas partes.
Mas nos Estados Unidos Israel tem grande apoio no Partido Republicano e Trump decidiu transferir a embaixada, apesar das advertências de que sua decisão pode enterrar definitivamente a solução de dois Estados para resolver o conflito.
Embaixada americana não é a primeira em Jerusalém
Esta não será a primeira, nem provavelmente a última vez que uma embaixada será instalada na cidade santa, que já abrigou delegações de alguns países latino-americanos e africanos.
A transferência anunciada pelo presidente Donald Trump para incômodo da comunidade internacional e os palestinos não desencadeou a esperada onda de instalações, como Israel havia anunciado.
No passado, vários países, especialmente africanos e latino-americanos, instalaram suas embaixadas em Jerusalém e alguns pensam em voltar.
Em 1980, Israel votou uma lei que declarou Jerusalém sua capital "unida e indivisível", inclusive os bairros palestinos da parte oriental, conquistada pelo Estado hebreu em 1967, onde os palestinos esperam instalar a capital que pretendem ter um dia.
As Nações Unidas declararam esta decisão ilegal e pediram a retirada dos Estados sem missões diplomáticas em Jerusalém.
Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Haiti, Panamá, El Salvador, Uruguai, Venezuela e Holanda aceitaram e partiram. A Costa Rica e Salvador voltaram a Jerusalém em 1984, mas saíram novamente em 2006.
Após a decisão do presidente Trump em 6 de dezembro passado, alguns países expressaram a intenção de transferir a Jerusalém suas representações e Israel tenta convencer outros de seguir este exemplo.
O presidente guatemalteco, Jimmy Morales, declarou que seu país vai inaugurar sua embaixada em Jerusalém no dia 16 de maio, e o ministério paraguaio de Relações Exteriores anunciou que fará o mesmo antes do fim do mês.
Depois da guerra de outubro de 1973, Costa do Marfim, o antigo Zaire (atual República Democrática do Congo) e o Quênia cortaram laços diplomáticos com Israel e fecharam suas embaixadas em Jerusalém. Quando as relações foram restabelecidas, estas delegações diplomáticas se instalaram em Tel Aviv.
O governo romeno, apoiado pelo presidente do Parlamento, aprovou uma proposta de transferência de sua embaixada a Jerusalém.
Mas o representante romeno, Klaus Iohannis, se opôs a esta decisão por não haver paz entre Israel e os palestinos, e pediu a renúncia da primeira-ministra, Viorica Dancila.
Em visita a Jerusalém em abril, Dancila declarou que até agora não tinha "o apoio de todos os partidos como teríamos querido" para transferir a embaixada.
A Romênia seria, assim, o primeiro país da União Europeia a imitar os Estados Unidos, rompendo com a posição europeia, que de acordo com as resoluções da ONU, considera que o estatuto final de Jerusalém deve ser negociado entre israelenses e palestinos.
O presidente checo, Milos Zeman, se expressou a favor da transferência da embaixada do seu país a Jerusalém, mas por enquanto seu governo só anunciou a reabertura de um consulado honorário e a instalação de um centro cultural checo na cidade.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, assegurou ao presidente palestino, Mahmud Abbas, em recente visita oficial, que seu país deixa sua embaixada em Tel-Aviv, segundo veículos palestinos.
Confira os detalhes sobre a embaixada
A sede da nova embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém fica no bairro de Arnona e até agora servia como consulado.
Washington anunciou a intenção de construir um novo prédio mais adiante, em um local ainda não revelado.
"A princípio, a embaixada temporária de Arnona abrigará os escritórios do embaixador e de um número reduzido de pessoal", disse à AFP uma fonte da administração americana.
"Durante as primeiras fases da transferência da embaixada, o embaixador vai trabalhar entre Tel Aviv [onde está a delegação atual] e Jerusalém porque é um processo de vários anos", acrescentou.
O edifício, que abriu as portas ao público em 2010, abriga os serviços consulares, que serão mantidos no mesmo local.
A embaixada fica a uns dois quilômetros do conturbado bairro palestino de Jabal Mukaber, onde nasceram vários dos autores de ataques anti-israelenses recentes.
Segundo o jornal Haaretz, o presidente israelense, Reuven Rivlin, e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, estarão presentes na inauguração.
Trump não comparecerá à inauguração, mas sim uma delegação de Washington encabeçada pelo vice-secretário de Estado John Sullivan, a filha de Trump, Ivanka, o marido dela e assessor do presidente, Jared Kushner, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.
O prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, anunciou por sua vez na terça-feira que uma rotatória próxima à embaixada será batizada com o nome de "praça Trump".
"Nomear esta praça é nossa maneira de demonstrar nosso amor e nosso respeito ao presidente e o povo americano", declarou em um comunicado.
A segurança foi reforçada para a inauguração na segunda-feira, e terá a presença permanente nas ruas de veículos da polícia fronteiriça israelense.
Na segunda-feira apareceram no bairro as primeiras placas de sinalização em hebraico, árabe e inglês, indicando a localização da "embaixada dos Estados Unidos".