Na terça-feira à noite, o presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou que queria negociações com os outros cinco signatários do acordo (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia).
O aiatolá Ali Khamenei, número um da República Islâmica, validou publicamente esta decisão, mas insistiu que o Irã não permaneceria no acordo sem "garantias reais" dos europeus.
O presidente americano Donald Trump anunciou na terça-feira que retirava seu país do acordo assinado em Viena em julho de 2015, no qual o Irã concordou em frear seu programa nuclear ao prometer jamais desenvolver armas atômicas em troca do levantamento parcial das sanções internacionais contra a República Islâmica.
Washington escolheu a opção mais radical ao restabelecer integralmente as sanções, mas também ao anunciar sanções ainda mais severas e forçando as empresas estrangeiras a escolher rapidamente entre fazer negócios no Irã ou nos Estados Unidos.
Se as negociações mostrarem que "os interesses do povo iraniano estão assegurados (...), o acordo nuclear permanecerá e poderemos agir em prol da paz e segurança da região e do mundo", disse Rohani.
A imprensa iraniana refletia nesta quarta as opiniões divergentes entre reformadores e conservadores moderados de um lado (como Rohani, um dos pais do acordo) e ultraconservadores do outro, que se opuseram desde o início a este compromisso.
"Trump rasgou o acordo nuclear, é hora de queimá-lo", opinou o jornal ultraconservador Kayhan. Os jornais reformadores expressaram esperança de encontrar uma solução com os europeus
Mas a margem de manobra parece pequena. "Eu não confio" nos europeus, e "duvido" que eles possam obter uma "garantia definitiva", declarou o aiatolá Khamenei.
"Peso" da Europa
Questionando a honestidade dos europeus, Ali Larijani, presidente do Parlamento, estimou que a retirada dos Estados Unidos oferecia à Europa uma oportunidade para mostrar "que tem peso para resolver problemas internacionais".
Se as negociações fracassarem, "a República Islâmica do Irã, com suas ações no plano nuclear (...), levará (todo o mundo) de volta à razão", afirmou Larijani, durante uma sessão animada em que vários deputados ultraconservadores queimaram uma bandeira americana com gritos de "Morte à América".
Rohani alertou na terça-feira à noite que o Irã poderia parar de aplicar as restrições às suas atividades nucleares e retomar o enriquecimento de urânio se as conversas com europeus, russos e chineses não derem os resultados esperados.
Nas ruas de Teerã, muitos iranianos expressaram seu choque com o retorno das sanções econômicas. "As sanções afetam as pessoas, não o regime", disse uma jovem.
"Não podemos mais viver aqui (...), já somos tão infelizes", declarou à AFP Katayoon Soltani, uma jovem iraniana de 21 anos, lamentando que muitas de suas amigas já estão partindo para o exterior.
"Esperamos que nossos parceiros europeus e nossos líderes isolem os Estados Unidos e que as consequências sejam limitadas", disse Touraj Tabatabai, um empresário de cinquenta anos.
Sem rodeios, o general Mohammad Ali Jafari, líder da Guarda Revolucionária, o exército de elite da República Islâmica, saudou "a saída dos Estados Unidos do acordo".
"Estava claro desde o início que os Estados Unidos não são confiáveis", argumentou, afirmando sua oposição a qualquer forma de negociação.
"É claro que entre os Estados Unidos e o Irã, os europeus escolherão os Estados Unidos. O enriquecimento de urânio é um pretexto para os Estados Unidos (...). A questão principal é a capacidade defensiva e balística, bem como o poder e influência da Revolução Islâmica na região", acrescentou.