Washington, Estados Unidos - O presidente Donald Trump define nesta terça-feira (8/5) o destino do histórico acordo nuclear com o Irã, ao anunciar seu veredicto sobre se mantém ou não, a suspensão das sanções americanas que apoiam o pacto internacional. Trump vem sendo um duro crítico do acordo.
Salvo uma mudança de último minuto, diplomatas e analistas estão convencidos de que o presidente dos Estados Unidos anunciará às 14h locais (15h em Brasília), na Casa Branca, que restabelecerá - ao menos parcialmente - as sanções suspensas contra Teerã como parte do acordo firmado em 2015 para evitar que esse país desenvolvesse armas nucleares.
"É bastante óbvio para mim" que o presidente voltará a impor sanções, disse um diplomata europeu na segunda-feira à noite em Washington.
Trump tem até 12 de maio para certificar que o Irã cumpriu o acordo, ou deixará o caminho livre para a retomada das sanções econômicas, se considerar insuficientes as soluções negociadas com os europeus para "endurecer" o acordo.
Isso implicaria, alegam os especialistas, a "morte" do acordo assinado em Viena entre Teerã e Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, após seis anos de tensões pelo programa nuclear iraniano e de maratônicas negociações diplomáticas.
Os demais países signatários defenderam o pacto que consideram "histórico", ressaltando que o Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA), que realiza inspeções muito minuciosas, regularmente certificou que Teerã respeita os termos do acordo, projetado para garantir o caráter não militar de seu programa nuclear.
"Estamos determinados a salvar este acordo, porque nos resguarda da proliferação nuclear", afirmou na segunda-feira o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, em Berlim. Já seu colega alemão, Heiko Maas, expressou temores de que um "fracasso conduza a uma escalada" de violência no Oriente Médio.
;Desastrosas deficiências;
Durante sua campanha, Trump condenou "o plano de ação" acordado durante o governo democrata de Barack Obama, a quem condena por "desastrosas deficiências" no acordo com Teerã.
Em janeiro, lançou um ultimato aos europeus, dando-lhes até 12 de maio para "endurecer" o acordo em vários pontos: as inspeções do OIEA, e a suspensão progressiva - a partir de 2025 - de certas restrições às atividades nucleares iranianas.
O presidente alega ainda que o acordo não ataca diretamente o programa de mísseis balísticos de Teerã, nem seu papel "desestabilizador" em vários países do Oriente Médio, como Síria, Iêmen, ou Líbia.
França, Reino Unido e Alemanha assumiram as negociações com os diplomatas americanos para buscar possíveis soluções para suas preocupações.
Na segunda-feira, em Washington, o chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, reconheceu que as demandas de Trump são "legítimas".
"Acreditamos que se pode ser mais duro com o Irã" e "abordar as preocupações do presidente" Trump sem desfazer o acordo, completou.
Durante uma visita à Casa Branca em 24 de abril, o presidente da França, Emmanuel Macron, propôs negociar "um novo acordo" com o Irã, em torno do "pilar" do firmado em 2015 e que construa outras bases para responder às preocupações americanas.
"Este acordo não é o melhor do mundo", mas, "sem ser perfeito, tem um certo número de virtudes", e os iranianos "o respeitam", declarou nesta terça-feira (8/5) a ministra francesa das Forças Armadas, Florence Parly, à rádio RTL.
"Será necessário continuar defendendo melhorar esse acordo. Estejam os Estados Unidos presentes, ou não", acrescentou.
Para Robert Malley, ex-negociador com o Irã na Presidência de Barack Obama e presidente do International Crisis Group, o destino do acordo está agora nas mãos dos europeus.
Próximos passos do Irã
Resta saber o que o Irã fará diante da possibilidade de os Estados Unidos restabelecerem as sanções.
Os ultraconservadores do país mantêm uma linha muito dura. Na quinta-feira, um conselheiro do aiatolá Ali Khamenei, o guia supremo iraniano, afirmou que Teerã deixará o acordo, se Washington cumprir sua ameaça.
Já o presidente Hassan Rohani disse, na segunda-feira, que o Irã poderia continuar aplicando as prerrogativas do acordo, mesmo após a saída dos EUA.
Rohani condicionou o respeito ao acordo a garantias "da parte não americana". Caso contrário, "seguiremos nosso próprio caminho", advertiu.
No domingo, Rohani havia declarado: "Seja qual for a decisão de Trump, resistiremos".
"Se os Estados Unidos abandonarem o acordo nuclear, verão em breve que vão lamentar como nunca antes na história", declarou.