Com García Meza, que está sendo velado e que será cremado por decisão de sua família, se encerra "um período terrível de nossa história, marcado por arbitrariedades sem limites", escreveu o ex-presidente e historiador boliviano Carlos Mesa.
"O general Luis García Meza faleceu após uma parada cardíaca e respiratória", afirmou o advogado Frank Campero. O militar havia sofrido três infartos no hospital das Forças Armadas, Cossmil, onde passou mais de 10 anos de sua pena de 30 anos de prisão, informou Campero.
"Com a morte de García Meza, perdemos informações muito valiosas para esclarecer os crimes contra a humanidade e acabar com a impunidade e privilégios que ele mesmo teve", disse o representante da Plataforma de Lutadores Sociais Contra a Impunidade, Julio Llanos.
Em 13 meses de regime sanguinário foram registrados 30 assassinatos confirmados e mais de 100 desaparecimentos nunca esclarecidos. Em 15 de janeiro de 1981, em Sopocachi, bairro de La Paz, oito dirigentes do Movimento da Esquerda Revolucionária foram torturados e assassinados por um grupo de paramilitares. Apenas uma pessoa conseguiu escapar.
Além da violência extrema, os 13 meses de governo de García Meza também foram caracterizados pela corrupção e narcotráfico. "Lamentamos que não tenha sido feita JUSTIÇA! Morreu em total impunidade", afirmou a Associação de Familiares de Detidos Desaparecidos e Mártires pela Libertação Nacional (Asofamd) no Facebook.
Para a Asofamd, García Meza "morreu protegido pelo exército", no hospital militar. O advogado revelou que o cliente deixou duas cartas póstumas, uma dirigida a sua família e outra ao país. O conteúdo daquela destinada ao público foi revelado nesta segunda.
No texto de seis páginas, no qual assegura que "não matou nem roubou", ele responsabiliza os ex-presidentes falecidos Víctor Paz Estenssoro (1952-1956, 1960-1964, 1964, 1985-1989), o ex-general de direita Hugo Banzer Suárez (1971-1978 e 1997-2001) e o ex-coronel Luis Arce Gómez, seu poderoso ministro do Interior pelo golpe. "Eles escolheram a data para o golpe", diz na carta.
Ele menciona ainda que Banzer, que foi presidente pela primeira vez por meio de outro sangrento golpe de Estado em 1971, ordenou matar o líder socialista Quiroga Santa Cruz, que o havia denunciado por crimes na década de 70.
García Meza dirigiu o golpe militar em 1980 e ficou no poder entre 17 de julho daquele ano e 4 de agosto de 1981. No dia do golpe morreram políticos, como o jornalista, historiador e líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz, cujo corpo nunca foi encontrado.
Em abril de 1993, Meza foi condenado a 30 anos de prisão, ao lado do ex-ministro do Interior Luis Arce Gómez, mas fugiu e foi detido no Brasil em março de 1995 e depois extraditado para a Bolívia, onde foi levado para uma penitenciária de segurança máxima.
Ao lado de Hugo Banzer, ditador (1971-1978) e também presidente de direito (1997-2001), García Meza foi considerado o ditador militar mais sanguinário do século XX na Bolívia.