Mundo

Miguel Díaz-Canel se torna o primeiro presidente de Cuba após a era Castro

Eleito nesta quinta-feira pela Assembleia Nacional, Díaz-Canel foi escolhido e preparado por Raúl Castro para dar continuidade às mudanças econômicas em andamento no país

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 19/04/2018 10:25
[FOTO1145308]
Miguel Díaz-Canel foi eleito, nesta quinta-feira (19/4), pela Assembleia Nacional, o novo presidente de Cuba, anunciou a imprensa oficial do país caribenho. A escolha, porém, foi selada na quarta-feira, no primeiro de dois dias de sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular.

Díaz-Canel é o primeiro representante da geração nascida após a revolução de 1959 a comandar a ilha, e o primeiro que não carrega o sobrenome Castro (leia aqui o perfil do novo líder cubano). Foi cuidadosamente escolhido e preparado por Raúl Castro, o irmão mais novo e sucessor do líder Fidel, para assumir os cargos de presidente do Conselho de Estado e presidente do Conselho de Ministros.

A chapa submetida ao voto da Assembleia Nacional incluía, como candidato, o primeiro vice-presidente ; cargo ocupado até ontem por Díaz Canel ;, o sindicalista afrocubano Salvador Valdés Mesa, 72 anos, e os demais 23 membros do Conselho de Estado. O fim da sessão, hoje, ocorreu em data simbólica: corresponde ao 57; aniversário da vitória na Baía dos Porcos, onde Fidel e Raúl lideraram o jovem exército revolucionário contra uma força expedicionária anticastrista treinada e financiada pelos Estados Unidos, em 1961.

Os 31 cargos do Conselho de Estado são nomeados entre os 605 deputados que integram a Assembleia Nacional, eleita em março, pelo voto popular ; mas com apenas um candidato por vaga. O novo parlamento confirmou na sua presidência Esteban Lazo, no cargo desde 2013.

Nova geração

Após o triunfo da revolução, em 1959, e a eleição de Fidel Castro como presidente, em 1976, Cuba só teve uma transição real. Em 2006, quando uma operação de emergência forçou o Comandante à aposentadoria, ele passou a chefia do Estado, do governo e do Partido Comunista de Cuba para o irmão mais novo. Fidel morreu em novembro de 2016, e coube a Raúl concluir a passagem do bastão para a nova geração.

Miguel Díaz-Canel deve continuar as reformas econômicas iniciadas pelo antecessor e enfrentar o esperado recrudescimento do embargo econômico imposto desde 1961 pelos Estados Unidos. Em 2015, os dois países retomaram as relações diplomáticas, após meio século de Guerra Fria, e no ano seguinte Barack Obama visitou a ilha. A chegada de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro de 2017, deteve a reaproximação.

Não é uma missão fácil que cabe a Diaz-Canel, engenheiro formado na universidade técnica de Santa Clara e na exigente escola do Partido Comunista de Cuba (PCC) .Pela primeira vez em seis décadas, o presidente não será um veterano da luta revolucionária nem vestirá a farda verde-oliva das Forças Armadas Revolucionárias (FAR). Também não será o primeiro-secretário do partido, posto mantido até 2021 por Raúl Castro, que deverá ser a ponte entre a nova equipe de governo e a velha-guarda.

;Ele não é nem Fidel nem Raúl, e as pessoas não vão ter com ele a mesma relação (de comando). Ele tem que se mostrar mais capaz de fazer as coisas;, analisa o cientista político cubano Arturo López-Levy. Mas a ;transição geracional;, como vem sendo chamada há cerca de uma década, ;não é improvisada, mas muito bem estudada;, diz López-Levy.

;O governo que estamos escolhendo terá sempre uma dívida para com o povo, que vai participar das decisões;, declarou Díaz-Canel depois de votar nas últimas eleições legislativas, em março. As reformas apontam para reativar uma economia que cresceu 1,6% em 2017, altamente dependente das importações e da ajuda de um aliado, hoje enfraquecido, a Venezuela.


Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação