O suposto ataque com "gases tóxicos" de 7 de abril na então localidade rebelde de Duma continua a mobilizar as grandes potências, com Estados Unidos e Rússia à frente, e a tensão só aumentou após os ataques ocidentais em represália contra locais militares do regime de Bashar Al-Assad.
Lideradas por Washington, Paris e Londres, essas incursões de magnitude sem precedentes ocorreram apesar da presença dos investigadores da OPAQ na Síria. Eles iniciaram seu trabalho no domingo.
Os especialistas, cuja tarefa é investigar o possível uso de armas químicas, mas não identificar os autores, ainda não visitaram Duma, onde o suposto ataque causou dezenas de mortes de acordo com socorristas.
Grande aliado do regime sírio, Moscou prometeu "não interferir" no trabalho da missão, oficialmente convidada por Damasco, que nega qualquer responsabilidade.
Após os ataques ocidentais, as discussões diplomáticas sobre a questão síria foram retomadas.
A reunião de emergência do Conselho Executivo da OPAQ aconteceu na sede da organização em Haia.
"A prioridade é fornecer os recursos à Secretaria Técnica (da OPAQ) para completar o desmantelamento do programa sírio", indicou o embaixador francês, Philippe Lalliot.
Já americanos, franceses e britânicos apresentaram na ONU um novo projeto de resolução sobre a Síria que deve ser discutido ainda hoje. O texto inclui a criação de um novo mecanismo de investigação sobre o uso de armas químicas.
- Aglomeração em Damasco -
Na capital da Síria, reduto do regime, milhares de pessoas ocuparam nesta segunda-feira a Praça dos Omeídas, fechada ao trânsito, agitando bandeiras sírias e retratos do presidente Assad para denunciar os ataques ocidentais.
Entre a sexta-feira à noite e a madrugada de sábado, uma semana depois do suposto ataque químico, esses três países mobilizaram navios de guerra e aviões de caça e atacaram centros de pesquisa ligados, segundo os ocidentais, ao programa de armas químicas do regime.
Paris reconheceu que os russos foram advertidos. Além disso, os locais designados como alvos estavam "completamente vazios", segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), afirmando que "as forças presentes haviam sido evacuadas".
"Missão cumprida", comemorou o presidente americano, Donald Trump, no Twitter, acrescentando que o resultado da operação, "perfeitamente executada", "não poderia ter sido melhor".
- "Transparência e neutralidade" -
Em um país assolado por uma guerra complexa, envolvendo vários atores apoiados por grandes potências com interesses diferentes, esses ataques não balançam o equilíbrio de forças.
"Para mim, a conclusão é que esses ataques não mudam nada. Foi uma encenação orquestrada por Trump e Putin (presidente russo) para permitir que ambos salvassem a cara", diz o especialista Nabeel Jury, pesquisador do think tank Atlantic Council em Washington.
O presidente francês, Emmanuel Macron, mostrou-se conciliador após vários dias de declarações em tom ameaçador. A França "não declarou guerra" à Síria de Bashar al-Assad, disse ele no domingo.
No domingo, Putin advertiu Estados Unidos, França e Reino Unido contra novos ataques na Síria, que gerariam "inevitavelmente caos" nas relações internacionais.
Os ataques de sábado também foram denunciados em um tuíte pela embaixada russa em Haia, argumentando que seu objetivo era "minar a credibilidade" da missão da OPAQ.
Os investigadores em Damasco tiveram "várias reuniões" com funcionários do regime, para discutir a missão a ser realizada "com transparência e neutralidade", assegurou o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayzal Mokdad, citado pela agência de notícias Sana.
"A Síria reiterou durante as reuniões que está disposta a cooperar e a disponibilizar todas as facilidades necessárias para permitir que a delegação cumpra bem sua missão", ressaltou.
O trabalho deverá, no entanto, ser complicado para os investigadores, que chegam mais de uma semana após os fatos em uma área que desde então tem estado sob o controle do Exército sírio e da Polícia Militar russa.