"Não adotamos uma visão ampla o suficiente de nossa responsabilidade, e foi um erro enorme. Foi meu erro, e sinto muito. Eu comecei o Facebook, eu o administro, e sou responsável pelo ocorrido", disse Zuckerberg a senadores americanos.
O empresário bilionário de 33 anos participa de uma audiência em uma sessão conjunta de duas comissões do Senado, em pleno escândalo provocado pelas denúncias sobre o uso não autorizado de dados pessoais dos usuários.
O mais grave capítulo do escândalo foi a revelação de que estes dados foram usados de forma não autorizada pela consultoria Cambridge Analytica para definir a retórica de Donald Trump em sua vitoriosa campanha à Casa Branca em 2016.
Os senadores interrogam Zuckerberg sobre a forma como o modelo de negócios do Facebook (e suas plataformas associadas) recolhem e utilizam informações baseadas em dados gerais dos próprios usuários.
Modelo questionado
Na abertura da audiência, o senador Chuck Grassley afirmou que este escândalo mostrou que os usuários de redes sociais "não entenderam por completo a quantidade de seus dados que são coletados, protegidos, transferidos, usados e abusados".
Parte do interrogatório a Zuckerberg se concentrou nos esforços do Facebook para evitar a divulgação de informações falsas e a alegada influência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos. O executivo disse que o Facebook desenvolveu ferramentas baseadas em inteligência artificial e que a empresa ampliou o número de funcionários para combater esses problemas.
"Há pessoas na Rússia cujo trabalho é tentar explorar nossos sistemas, e outros sistemas cibernéticos", disse. "Então, é como uma corrida armamentista. Eles se tornam melhores e nós temos que nos tornar melhores também".
Zuckerberg apontou também que o Facebook pode ter recebido intimações judiciais para colaborar com a investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller sobre a ingerência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.
"Nosso trabalho com o procurador especial é confidencial", disse Zuckerberg no Senado, acrescentando que "poderia haver" intimações a funcionários do Facebook, "mas sei que estamos trabalhando com eles".
"Quero ser cuidadoso porque quero ter certeza de que podemos discutir isto em uma audiência pública e revelar algo que é confidencial", acrescentou. No entanto, pouco antes havia afirmado que ele mesmo nunca tinha sido entrevistado por agentes da equipe do procurador Mueller.
Ameaças de regulação
Na segunda-feira, Zuckerberg realizou uma visita ao Congresso para reuniões privadas com vários legisladores, que lhe explicaram que as pressões em favor de uma maior regulação das redes sociais estão aumentando.
O senador democrata Bill Nelson disse à imprensa, depois de se reunir em seu gabinete com o criador do Facebook, que o empresário parecia estar levando a questão "muito a sério". "Acredito que entendeu que uma maior regulação pode estar próxima", afirmou.
O senador republicano John Kennedy rejeitou a ideia de mais regulação, um cenário que horroriza os conservadores. "Não estou interessado em regular o Facebook. Quero que o Facebook regule a si mesmo", apontou.
Enquanto dentro do Senado Zuckerberg era submetido a interrogatório, um dos jardins externos do Capitólio era palco de um protesto. Com dezenas de bonecos de papelão com a imagem de Zuckerberg, manifestantes reclamavam da demora da empresa em adotar medidas para proteger os dados de seus usuários.
Investigada e denunciada em ambos os lados do Atlântico, a rede social começou na segunda-feira a informar os usuários cujos dados podem ter caído nas mãos da Cambridge Analytica. O Facebook anunciou, nesta terça-feira, que recompensará as denúncias apresentadas sobre o uso abusivo de dados pessoais.
A empresa "premiará as pessoas com conhecimento direto e provas de casos em que um aplicativo da plataforma do Facebook colete e transfira dados dos usuários a terceiros para sua venda, roubo, fraude ou influência política", apontou o chefe de segurança de produtos da empresa, Collin Greene.
O valor será "baseado no impacto de cada relato", disse Greene, com um mínimo de 500 dólares para casos verificados que afetem 10.000 pessoas ou mais.